Risco ou Consequencia

Risco X Consequência

Risco X Consequência

Há algum tempo atrás quando ouvi a pergunta, “Qual a diferença entre risco e consequência?”

Confesso que tive dificuldade em responder, mesmo tendo vivido no meio do esporte e lidando com adrenalina, derrotas, vitórias, alegrias, tristezas, ansiedade, nervosismo, confiança ou falta dela, nunca tinha parado para pensar na pergunta isoladamente.

Gosto de praticar o exercício estóico de estar focado nas coisas que posso controlar e pouco me preocupar com as coisas que não posso, isso é um exercício diário e claro nem sempre eu consigo, mas como tudo na vida é treino, sigo praticando com afinco e posso sentir minha evolução.

Quando levamos esse conceito para nossos desafios, ele se torna ainda mais importante.

Façamos uma analogia com uma luta de jiu jitsu, qual a melhor chance de você vencer uma luta?

Provavelmente colocando seu adversário em seu jogo, tentando induzi-lo ao erro e capitalizando em cima desse erro ,usando sua melhor técnica para finaliza-lo, estou correto?

Hora, se preciso traze-lo para meu jogo, isso implica que eu tenho que tomar a ação e isso esta em meu controle.

As reações de meu adversário começam a ser mais previsíveis quando ele reage a algo que eu conheço e novamente depende de mim saber conectar minha próxima técnica e levar a luta e suas conexões sob meu controle, ate o golpe final.

Coisas que estão sob seu controle precisam gerar ações e isso gera consequências para novas ações em seu controle, seu foco deve ser apenas esse pois isso fará você minimizar os riscos.

Eles existem? Conceitualmente, o risco é composto por probabilidade e consequência.

Quanto mais você treina, mais você conhece os perigos e consegue se preparar para lidar com eles, minimizando os riscos.

 

Assisti um documentário de um escalador, Alex Honnold, ele faz uma modalidade chamado Free Solo que significa que escala montanhas sozinho e o mais surpreendente, sem nenhum tipo de equipamento.

 

Nesse documentário, ele desafia a mais assustadora montanha de Yosemite nos EUA, um paredão vertical.

Os poucos escaladores que já conseguiram completar otrajeto o fizeram com equipamento e demoraram 30 horas.

Alex define uma rota, estuda minuciosamente o trajeto, treina cada trecho, cada pegada, separa todas as fases da subida, treina exaustivamente a técnica em cada estágio, memoriza todas pegadas e todas as fendas do caminho, treina, treina e treina, até o ponto onde masteriza cada movimento.

Um outro aspecto trabalhado com intensidade é a concentração, imprescindível para um desafio como esse, focado na técnica ele exercita a limpeza dos pensamentos, controla a respiração e se conecta com a montanha e com a missão de conquista-la.

O que a maioria vê como adversário, ele enxerga como apenas um obstáculo necessário para seu objetivo.

Frequentemente questionado sobre o risco de morrer por jornalistas e fãs em geral, Alex explica de forma muito clara, conceitualmente, o perigo “é errar a técnica”.

Como o risco é probabilidade x consequência, se ele treina muito, a probabilidade de errar é baixa, baixando o risco.

Essa explicação me fez refletir e enxergar com muito mais clareza essa diferença. Vamos analisar o momento em que estamos vivendo onde as pessoas estão basicamente se dividindo em dois grupos, as que não acreditam no risco e as que morrem de medo da consequência.

Analisemos outros fatos para criarmos uma correlação, 1.35 milhões de pessoas morrem todos os anos de acidentes de automóvel (OMS) mesmo com regras de segurança e equipamentos nos veículos que ajudam muito a minimizar o problema.

Mas os números ainda são assustadores, você deixa de pegar seu carro e dirigir por isso? Ou pior ainda deixa de entrar no carro com outra pessoa dirigindo?

Provavelmente não, embora você saiba que existe o risco, entende que ele é razoavelmente controlado e que mesmo que aconteça uma batida, ainda assim, ela ainda tem um índice baixo de probabilidade de te causar um dano sério, embora a consequência de uma batida em alta velocidade possa sim ser fatal.

No Brasil existem mais de 60.000 assassinatos por ano, um número vergonhoso e assustador, você mesmo sabendo disso deixa de sair de casa ir trabalhar se divertir e levar sua vida?

Provavelmente não, pois você entende que tomando medidas de segurança pode minimizar a probabilidade de acontecer algo, reduzindo os riscos e não se preocupar tanto na consequência.

Se olharmos para o atual momento da pandemia mundial do COVID 19 veremos também um numero assustador de mortes, e isso nos traz insegurança e medo.

Olhando um pouco mais para as estatísticas entendo que o risco é controlável, e como com relação a violência ou aos acidentes automobilísticos, se tomarmos medidas de prevenção e segurança podemos levar nossa vida “normalmente” e convivermos com o risco que o vírus nos impõe.

O que podemos controlar?

Nossa saúde, o que ingerimos e que pode fortalecer nosso sistema imunológico, fazer atividade física, trabalhar nossa mente para pensamentos positivos.

Sair do quadro de ansiedade e preocupação que estão normalmente ligados a fatores fora de nosso controle e que são responsáveis por nossos medos e inseguranças.

Podemos voltar para o inicio do texto e fazer novamente o paralelo com o jiu jitsu e a luta, nossa ansiedade e nervosismo pré competição sempre estão ligados a essa ansiedade e a
movimentos que não nos cabe controlar.

Ser saudável é sem dúvida a melhor defesa contra o vírus e isso esta na maioria dos casos em seu controle.

As pessoas que carregam alguma doença pré existente ou são mais vulneráveis devem sim ser cuidadas com muita atenção e talvez se manter em isolamento por mais tempo até que tenhamos uma vacina ou que o vírus não esteja mais entre nós, o que pode levar um bom tempo.

Mas se você não esta nessa faixa, é jovem, saudável e produtivo, não se deixe vencer pela consequência e se concentre em trabalhar na prevenção e em conviver melhor com esse risco.

E se fizer sentido para você, VIVA.

Afinal nunca sabemos o dia de amanha e precisamos viver o presente como ele se apresenta para nós.

 

Forte abraço

Fabio Gurgel