A Historia da Alliance em 30 capítulos

A história da Alliance em 30 capítulos [#22]

Um novo capítulo a cada semana [#22]

 

CAPÍTULO #1

A Alliance faz 30 anos de vida, mas essa linda história que eu quero te contar começa ainda mais longe, o ano era 1985, o lugar era Ipanema – Rio de Janeiro, a primeira escola a Jacaré Jiu Jitsu.

Nosso mestre voltava de um longo luto após a morte de seu mestre e mentor o lendário Rolls Gracie em 1982, que acabara de gradua-lo a faixa preta e faleceu em um trágico acidente de asa delta, Jacaré se afastou do Jiu Jitsu e começou a se dedicar ao Triathlon, logo se aventurou na maior prova da modalidade e completou o Iron Man no Hawai em 22 de Outubro de 1983 dia de seu aniversário.

Mas logo após esse período o jiu jitsu o chamou para talvez ainda sem saber sua verdadeira missão nessa vida, ensinar!

Uma pequena academia de 60m2 em uma sobreloja em Ipanema da inicio ao sonho, a turma de alunos começa a tomar corpo e seus alunos começam a se destacar nos campeonatos, éramos poucos mas lembro como nos entregávamos, lutávamos com afinco para provar a qualidade de nossa escola, impossível não lembrar do torneio onde desbancamos pela primeira vez uma das academias Gracie ficando em terceiro lugar, foi um feito inacreditável, faríamos isso tantas outras vezes que quem hoje olha a Alliance não consegue imaginar o que aquilo significou.
Nos empenhamos ainda mais, e dia a dia construíamos uma equipe, um time, uma familia, capitaneados por nosso mestre vivíamos o jiu jitsu na sua integralidade, nos seus valores, nas suas tradições, escutávamos as histórias dos ídolos da familia Gracie e seus alunos e queríamos ser iguais, Jacaré nos guiou na luta mas também na importância da dieta da preparação física, da saúde mas principalmente da lealdade da amizade do companheirismo.

Nosso time cresceu e tive a honra de ser o primeiro aluno graduado a faixa preta pelo mestre Jacaré em 1989, logo depois em 1990 foi a vez do Alexandre e começamos a enfrentar algo impensável, nossos alunos começaram a enfrentar os alunos de nossa academia a Jacaré Jiu Jitsu. Não tinha o que fazer era o que era e tínhamos aprendido com nosso mestre a nos dedicar ao máximo a nossos alunos, logo não havia saída para aquela situação, mas aquilo não fazia sentido. Em 1991 eu dava aulas no clube Federal no alto Leblon e conversando com o Jacaré decidimos juntar as forças e montamos a Master em Ipanema, alugamos um espaço enorme que era um antigo teatro, tínhamos a maior academia do Rio. O Alexandre juntou-se ao Traven e montou a Strike e o problema se intensificou, nossos alunos se digladiavam antes de enfrentar nossos verdadeiros adversários.

Finalmente em 1993 tivemos a ideia de juntar todos os alunos embaixo de uma só bandeira para que parássemos de disputar entre nós e para que formássemos a melhor equipe do mundo, nascia assim a Alliance, foram colocados de lado todos os egos, logos e interesses individuais para que pudéssemos construir algo maior. (Talvez isso tenha sido o primeiro grande passo para estarmos juntos até hoje)
Nesse mesmo ano foi criada a CBJJ (confederação brasileira de jiu jitsu) e também o UFC, dois fatores que viriam a ser os grandes responsáveis pela internacionalização do Jiu Jitsu e consequentemente da Alliance.

Continua….

 

CAPÍTULO #2

No capitulo passado terminamos em 93, ano que fundamos a Alliance e, voltarei mais adiante a esse tema em detalhes, porém gostaria de voltar alguns anos para um evento muito marcante não só para mim, mas também para nossa escola, o Vale tudo de 91, clássico desafio entre Jiu Jitsu e Luta Livre.

Pela primeira vez nossa escola estaria representada em um evento de Vale Tudo que tinha o objetivo de defender a hegemonia e tradição do Jiu Jitsu.

Aquelas histórias que escutávamos desde o início de nossa jornada no Jiu Jitsu agora poderia ser realmente vivida, eu estava pessoalmente orgulhoso de ser um dos representantes nesse desafio que teria um impacto muito grande para o Jiu Jitsu como um todo, mesmo não tendo a menor noção de como isso aconteceria.

A história por trás desse evento começa com um desafio feito por um atleta da academia do Carlson Gracie, Wallid Ismail, que desafiou qualquer um em nome do Jiu Jitsu (coisas da época: não existia a internet que temos hoje e as pessoas tinham que bancar o que diziam) o desafio foi aceito e o GM Carlson Gracie fez a seleção entre os nomes disponíveis e nos treinou por 6 meses para o que seria o maior desafio de minha vida até então.

Uma passagem que segue muito viva em minha memória foi a preleção do GM João Alberto Barreto que, minutos antes de nossa luta nos disse: “Meus queridos, gostaria de dizer que a partir de agora o corpo de vocês não mais pertence a vocês, ele pertence ao Jiu Jitsu e a sua história. Vocês agora têm a responsabilidade de defender um legado de 70 anos de muito suor e sangue. Qualquer parte do corpo quebrada, um nariz, um braço um olho perdido tudo isso se tornará medalha em nosso museu, nosso corner não tem toalha, ninguém salvará vocês. Boa Sorte”.

Foi uma incontestável vitória por 3 x 0 em uma noite memorável transmitida para todo o Brasil pela TV Globo. O Jiu Jitsu explodiu no Brasil e a Alliance Jiu Jitsu começou sua expansão através de escolas filiadas, mas isso é um outro capitulo…

 

CAPÍTULO #3

Depois do Vale Tudo de 91 o jiu jitsu se tornou muito popular por todo o Brasil e nao mais apenas no Rio de Janeiro, nossa academia Master em Ipanema ficou lotada e já éramos referência como uma das melhoras academias da cidade. Durante esse período as notícias chegavam dos EUA, em uma velocidade inimaginavelmente lenta se pensarmos como a informação esta disponível nos dias de hoje, mas tínhamos uma noção de como o jiu jitsu estava se desenvolvendo por lá, afinal a familia Gracie estava intensificando o movimento de migração para a América, Rickson havia se mudado em 1989 seguido pela família Machado e o movimento só aumentava. Confesso que essa possibilidade embora ainda muito remota passava pela minha cabeça, uma vez que eu sempre estava tentando olhar o que acontecia com quem estava a minha frente. Eu tinha 22 anos faixa preta e dono de uma academia de sucesso, morando no Rio de janeiro e trabalhando a uma quadra da minha casa, eu acreditava cada vez mais que seria possível viver de jiu jitsu.

Em 1992 recebi um convite para levarmos nossa academia para Vitória no Espirito Santo, conversei com o Jacaré e decidimos que era uma boa oportunidade e que deveríamos nos revezar entre as duas cidades, convidamos o Telo um de nossos melhores instrutores na época e fazíamos um constante rodízio de 15 dias em Vitória e 30 no Rio cada um, rapidamente expandimos para Vila Velha e tínhamos assim as duas primeiras filiais da Master Jiu Jitsu.

Íamos sempre de carro em uma viagem de 6 horas por uma estrada cada vez mais perigosa e tanto eu quanto o Telo sofremos acidentes. Mas o resultado era muito bom, construimos uma parceria sólida com a academia Ponto 1 que era referência na cidade e chegamos a ter mais de 300 alunos e um time de campeões que nos trouxe muitas alegrias ao longo dos anos.

Em vitória formei também meus faixas pretas nº2 e nº3 Leandro Borgo e Pedro Andrade respectivamente (ver lista completa de meus faixas pretas no link https://fabiogurgel.com.br/lista-de-faixas-pretas-formados-por-fabio-gurgel/ )

Esse período em Vitória é cheio de acontecimentos paralelos assim como toda essa trajetória que pretendo contar a vocês, centenas de pessoas fizeram parte da história da Alliance, conto aqui sob o meu ponto de vista de forma resumida e com a consciência de que milhares de detalhes ficarão de fora desses meus relatos.

Mas acredito que ao final desses capítulos vocês terão um real entendimento do que passamos até aqui e como construimos a equipe mais vencedora da história de nosso esporte.

No capitulo que vem voltaremos a fundação da Alliance, como ela se deu? Quem eram os fundadores?

 

CAPÍTULO #4  

Essa fase pré fundação da Alliance que ocorre entre 1985 e 1993 é uma fase muito rica onde nossos laços de amizade foram de fato construídos, onde nos desenvolvemos como lutadores e professores e definitivamente provamos o valor da forma como nosso mestre ensinava o jiu jitsu, a conclusão que a única maneira de resolvermos o problema de nossos alunos e consequentemente o nosso seria nos juntarmos para defender uma única bandeira ficou clara e começamos as conversas com as principais figuras envolvidas.

Eu estava junto como Jacaré na Master jiu jitsu onde meu irmão também treinava, Gigi e Traven estavam na Strike porém eles tinham um sócio investidor que também fez parte desse primeiro movimento, o nome dele era Francisco Canepa, tínhamos ainda algumas figuras importantes que estavam treinando conosco å época e que entendíamos podiam contribuir para o construção de nosso time, eram eles Leonardo Castello Branco e Vinicius Campelo, Dessa forma a primeira formação de fundadores da Alliance era composta por: Romero Jacaré Cavalcanti, Fabio Gurgel, Fernando Gurgel, Alexandre Paiva, Roberto Traven, Francisco Canepa, Leonardo Castello Branco e Vinicius Campelo.

Decidimos por votação entre alguns nomes que Alliance era o nome que melhor representava o movimento de união que estávamos fazendo, era um nome internacional que nos deixaria confortável em uma possível expansão internacional, mesmo que as chances disso acontecer fossem ainda muito remotas. As academias seguiam funcionando independentemente umas das outras e os fundadores atraíam novas filiais sem muita regra definida, o único objetivo era fortalecer o time de competição. Para que tivéssemos uma identidade como toda marca precisávamos de um logo, lembro do dia que o logo foi apresentado, estávamos todos na Master para uma “reunião” e um aluno da Strike que por coincidência tinha estudado em minha classe no colégio, Rodrigo Didier chegou para apresentar nosso logo, não tínhamos muito acesso e nem fizemos uma grande pesquisa ou concorrência, o que me leva a crer que demos muita sorte em encontrar no Rodrigo o talento e sensibilidade para colocar a águia o único animal sem predador dentro de um triângulo que representa equilíbrio, hierarquia e poder, quando olhamos o logo imediatamente soubemos que aquele seria o símbolo de nossa escola, não houve sequer uma contestação, todos adoraram. Estava fundada a Associação Alliance de Jiu Jitsu, não era uma academia, não tinha fins lucrativos era apenas a formação de uma equipe de jiu jitsu com a intenção de ser o melhor time do mundo.

O fato de decidirmos lutar todos juntos sob a mesma bandeira não eliminou os egos nem tão pouco os logos, todos seguiram usando seus logos com nomes próprios em suas academias e o logo da Alliance demorou um pouco a ser o principal.

Nesse mesmo ano de 1993 recebi um convite para ir a São Paulo conversar com algumas academias, eu frequentava a cidade desde 1988 para treinar com o Marcelo Behring, uma pessoa que teve grande influencia em minha formação como lutador, eu gostava da cidade e já tinha alguns amigos por intermédio dele, em minhas primeiras conversas recebi uma proposta da academia Formula recém inaugurada na cidade e com uma estrutura jamais vista, meu salário seria muito bom e era uma oportunidade de abrir um novo mercado sem precisar sair do Brasil o que me manteria próximo das competições. Quando cheguei em Sao Paulo fiquei 6 meses na Formula quando apareceu uma oportunidade para lutar na Dinamarca um campeonato de Ju Jutsu, regras diferentes mas achei que era uma boa oportunidade montamos um time (chamei o Jacaré como técnico e o Telo como atleta ate 66kg) tínhamos ainda Sylvio Behring, Fernando Yamazaki e Matias na equipe. Durante minha luta e faltando 10 segundos sofri um acidente e quebrei a perna em 2 lugares. Precisei passar por uma cirurgia enquanto a turma seguiria viagem pela Europa divulgando o jiu jitsu brasileiro, nosso camera man escalado para a viagem era o amigo Raul Gazolla, que se prontificou a interromper sua viagem e ficar comigo no hospital dormindo por vezes no corredor, atitude que jamais esquecerei e por isso mesmo com pouco contato nos dias de hoje o tenho em grande consideração. Cirurgia feita, de volta ao Brasil fui dispensado da Formula sob o pretexto de queda de movimento nas férias, eu havia caído em uma estratégia de divulgação da academia que contratara grande nomes de vários esportes para o lançamento e depois dispensou todos um por um. A questão agora era: volto pro Rio e vida que segue ou dou um jeito e continuo em São Paulo? A decisão vocês podem imaginar mas no próximo capítulo vou contar a vocês como foi minha primeira academia em São Paulo a Master Alliance.

 

CAPÍTULO #5  |  Escolhendo São Paulo de vez

A saída da Fórmula academia logo após meu retorno e ainda com a perna em recuperação me colocou em uma situação não muito confortável, eu havia alugado uma casa grande (maior que o necessário) no bairro da Cidade Jardim para que eu pudesse, copiando o modelo Gracie do inicio dos anos 80 nos EUA, também dar minhas aulas particulares, preparei a garagem com um tatame comecei a receber os primeiros alunos e tudo ia bem, mas com a saída da Fórmula não teria como manter o aluguel. Precisei cancelar o contrato e gastar uma reserva que me faria falta, mas não havia outra opção.

Estava na estaca zero, sem lugar para dar aula e sem a menor vontade de desistir e voltar para o Rio de Janeiro com esse fracasso nas costas. Comecei a procurar imóveis para montar uma academia, duas pessoas muito importantes na minha vida apareceram nesse momento, conheci meu primo Marcelo Gurgel ainda na fórmula ficamos amigos e nesse exato momento onde não via muita saída ele me ofereceu a garagem da casa dele para que eu pudesse dar minhas aulas particulares, imagina o incomodo, eu chegava de manha, tirava os carros montava o tatame e começava a dar as aulas que não eram muitas mas que ajudavam a me manter na cidade, um desses alunos era o Pierre Chofard, grande amigo e meu faixa preta que teve um papel fundamental em minha história um pouco mais a frente.

Consegui achar um imóvel no Real Parque, uma região relativamente nova da cidade e com muitos prédios, era um galpão industrial que havia ficado espremido entre prédios, o terreno tinha uma área de 50 x 10 e o galpão tinha 20 x 10 com um pé direito de uns 8 metros, o primeiro desafio era conseguir alugar o imóvel sem ter dinheiro nem alunos, conversei com o proprietário Sr. Cera que pedia um valor que eu não podia pagar, mas vendo a minha decepção em não poder assumir o compromisso me fez uma oferta: e se você me pagar 20% do seu faturamento? A qual eu respondi: mas eu não tenho nenhum faturamento e não sei quantos alunos eu vou conseguir ter aqui, não tem problema acredito que você vai conseguir ter alunos e ficarei feliz se aceitar minha proposta. Anjos que cruzam nosso caminho, tínhamos o lugar!!!! Mas claro não tinha dinheiro para a mínima reforma necessária, vendi minha moto e chamei o professor Sylvio Behring para entrar comigo uma vez que ele também queria se estabelecer na cidade, a academia antiga do irmão (Marcelo) e naquele momento administrada pelo pai não era uma opção possível, ele topou e montamos a Master Alliance em São Paulo, nessa época o Ricardo “Franjinha” Muller que eu havia trazido do Rio para me ajudar enquanto eu estava com a perna machucada também resolveu ficar e éramos 3 para fazer a academia decolar.

A academia Master da rua Camilo Nader no Real Parque começou, alguns alunos daquela época seguem até hoje treinando e chegaram a faixa preta, não vou nomea-los pelo simples fato de que possivelmente esquecerei alguém o que seria imperdoável, mas saibam que sem vocês eu não estaria aqui hoje e a Alliance não seria o que é.

Em poucos meses a sociedade com o Sylvio se desfez de forma amigável pelo simples fato de que ele queria viajar e levar o jiu jitsu para outros cantos e entendíamos que a academia precisaria de dedicação total, e era isso que eu fazia, dava todas as aulas particulares e coletivas, me mudei para uma casinha (bem mais humilde que a primeira) ao lado da academia enfrentava o frio daquele inverno de 94 sem esmorecer o que para um carioca recém chegado era sofrido, rs.

Aos poucos o numero de alunos ia aumentando mas já começávamos a ver que o local não tinha muito potencial comercial, mas estava conseguindo pagar as contas e mal ou bem ia formando um time de competição que me ajudava a treinar também.

Levamos o primeiro time para uma competição organizada pela FPJJ que estava sendo reorganizada pelo Mestre Otavio de Almeida, a competição foi em Itu e acho que fomos com algo em torno de 10 alunos, todos lutaram muito bem e voltamos com várias medalhas, eu tive também a chance de competir pela primeira vez em São Paulo e mostrar que o jiu jitsu praticado no Rio era muito diferente e muito mais desenvolvido, isso mudaria em alguns anos, mas atraiu ainda mais alunos e nossa academia começou a prosperar.

A Alliance no Rio sofreria algumas mudanças nessa época, tínhamos uma relação não muito segura com o proprietário do imóvel de Ipanema e ele finalmente pediu que saíssemos de lá, Jacaré conseguiu um imóvel bem menor na frente da praça Nossa Senhora da paz no terceiro andar de um prédio, esse movimento fez ele colocar um plano antigo em prática, se mudar para os EUA e iniciar um trabalho por lá, meu irmão Fernando Gurgel o “Magrão”, assumiu a academia de Ipanema. Enquanto isso o projeto  Vitória também precisava ser repensado uma vez que eu estava em São Paulo e o Jacaré de mudança para os EUA, precisávamos de alguém fixo, o telo que seria nossa primeira opção não quis ficar sozinho nessa missão e então enviamos o Jamelão que era faixa marrom na época e um dos melhores atletas de nosso time.

Ainda no Rio a Strike se fortalecia sob o comando do Gigi e do Traven revelando ótimos atletas que constatávamos em nossos torneios internos as “Copas Alliance” que tinham também o intuito de substituir as seletivas internas usadas para selecionar nossos melhores atletas para competir pelo time principal, a Copa Alliance reunia todos os anos centenas de atletas e era uma ferramenta muito importante para unir todo o time, com o tempo e o aumento de campeonatos oficiais foi ficando difícil de manter esses eventos internos mas essas memórias trazem saudade até hoje.

No próximo capitulo vou contar a vocês um passo muito importante da minha caminhada em São Paulo e as dificuldades do Jacaré nos EUA que o levaram de Miami para Atlanta onde até hoje temos umas das academia de maior sucesso em nossa rede o nosso Headquarters nos EUA.

 

CAPÍTULO #6  |  São Paulo mostra sua força

O ano era 1995, eu acabara de vencer o campeonato brasileiro no peso e no absoluto, a academia em São Paulo pagava as contas, mas a dificuldade de crescer era grande, não existia internet e o marketing era bastante difícil precisávamos ir para um local de maior visibilidade.

Eu dava aulas as 7am para o Pierre Chofard e em uma de nossas muitas conversas ele comentou que deveríamos tirar a academia de lá e ir para um local melhor no bairro do Itaim, eu ri e falei claro, só não sei como, ao que ele prontamente disse eu invisto na academia para você. Começamos a procurar o ponto e depois de várias tentativas frustradas achamos um imóvel que caberia uma academia e que pela obra que precisaríamos fazer tinha um aluguel compatível, fizemos um projeto com um arquiteto e literalmente construímos mais um andar no prédio, tínhamos agora mais de 400m2 e uma academia com 3 salas de tatame diferentes, em 6 meses passamos de 60 alunos para 250, tinha dado certo o plano.

Na época eu usava meu antigo logo que tinha o “Mutley” símbolo que usava desde a academia do clube Federal no Rio de Janeiro, eu era patrocinado pela Dragão Kimonos que começou a produzir a marca Mizuno no Brasil e fui automaticamente transferido para ser atleta Mizuno e isso se estendeu para todo o material de merchandising da academia, começamos apensar em uma linha da Mizuno com o Mutley foi quando esbarramos no obvio, direito de marca, embora o Mutley estivesse de kimono e descaracterizado do personagem criado por Hanna Barbera, assim que consegui o registro da marca (exigência da Mizuno) recebi uma longa carta com centenas de documentos comprovando a propriedade da marca pela empresa holandesa e me pedindo gentilmente para interromper imediatamente o uso do personagem de toda e qualquer forma. Perdi não só a oportunidade do negócio da Mizuno como também precisei mudar o logo da fachada dos patches dos kimonos da papelaria da academia enfim tudo!

Criei o novo logo FG uma elipse vermelha com minhas iniciais dentro do logo e seguimos o trabalho. O fato é que a nova academia da rua Leopoldo Couto Magalhães era um tremendo sucesso, nossa equipe de alunos já se destacava muito nas competições e a vida em São Paulo tinha ficado boa.

Jacaré havia se mudado para Miami e enfrentava dificuldades em implantar o jiu jitsu em uma cultura diferente e que pouco conhecia nossa arte, o UFC se tornaria popular mas ainda estava muito longe desse momento e o investimento de toda a mudança para a América fez com que fosse um período muito difícil, até que ele recebe uma proposta de se mudar para Atlanta a convite de um amigo que conhecia um médico que havia se apaixonado por jiu jitsu e estava inclusive montando um evento nos moldes do UFC e que gostaria também de ter uma academia. Jacaré se mudou de mala e cuia como se diz, chegando lá a história não era exatamente como haviam contado existia apenas um local vazio e que ele podia alugar se ele quisesse, como ele já estava com a mudança toda no caminhão decidiu que não tinha como voltar para Miami era aceitar aquilo ou voltar para o Brasil, tomou o risco e construiu uma das maiores escolas de jiu jitsu do mundo em Atlanta que não estava nem no mapa do jiu jitsu, sua academia esta firme e forte até hoje e falaremos bastante dela ainda durante os próximos capítulos.

A Strike seguia no Rio de Janeiro revelando talentos ainda em 95 tivemos o primeiro campeonato por equipes da CBJJ, nossa equipe de azul leve que foi campeã, tinha Tererê, e Cauã Reyond entre os 7 atletas, vencemos a preta pesado e já despontávamos como uma das melhores equipes uma vez que a até então dominante Carlson Gracie diminuía sua força.

Todas as nossas academias usavam seus próprios logo e competiam agora pela Alliance, mas isso começaria devagar a mudar embora com muita resistência, os egos envolvidos em nosso esporte não facilitavam o entendimento e todos queriam brilhar como bons professores e achavam que seu nome próprio era imprescindível para tal.

Reuniões intermináveis entre as principais figuras da equipe demonstravam discordâncias ainda não evidentes na época mas que olhando do futuro eram reais demonstrativos que aquele sistema da forma que fora desenhado não ia funcionar por muito tempo.

Discutíamos desde a formação do melhor time até o uso dos nomes junto ao logo da Alliance, era praticamente impossível chegar a um consenso sobre qualquer assunto, mas seguíamos juntos e na hora da competição estávamos todos juntos e com muito orgulho de representar nossa escola, mas na minha cabeça algo precisava ser feito se quiséssemos seguir em frente juntos.

O ano de 1996 nos reservaria alguns marcos importantes, o primeiro mundial no Rio de janeiro e minha ida para o UFC XI, assuntos para a próxima semana.

 

CAPÍTULO #7  |  O primeiro mundial

O ano de 1996 começa com a noticia de que teríamos o primeiro mundial de Jiu jitsu organizado ainda pela CBJJ, ( 1997 seria fundada a IBJJF), que já havia realizado em 1995 o primeiro Pan Americano em Orlando, o sentimento naquela época é que esses campeonatos não valiam muito pois não haveria competitividade maior do que um torneio realizado no Rio de Janeiro e quase ninguém foi ao primeiro Pan Americano que se não me engano so teve 2 lutas de faixa preta, a Alliance não participou como equipe, mas agora seria um titulo mundial e decidimos que deveríamos apostar junto com a federação na tentativa de construir algo maior. Eu estava de férias no Hawaii quando decidi que deveria lutar, teria apenas 3 semanas de treino após minha chegada ao Brasil mas assim seria, então entre um passeio e outro fazia minha preparação física pois não havia ninguém na ilha para treinar Jiu jitsu.

O campeonato foi em Janeiro no auge do verão carioca e pela primeira vez foi permitido ao Jiu Jitsu usar um palco antes exclusivo do judô, o ginásio do Tijuca Tenis Clube, o que hoje olhamos com certo desdém pela estrutura do ginásio em comparação aos ginásios onde os campeonatos acontecem ao redor do mundo, na época era simplesmente incrível termos conseguido aquele palco.

A federação se empenhou em trazer atletas de outros países para competir e dar o cunho de campeonato mundial, lutei com um francês na primeira rodada mas não me lembro de nenhum atleta não brasileiro vencendo sequer uma luta, a diferença era muito grande.

Cheguei a final com meu amigo Murilo Bustamante e consegui meu primeiro título após um vitória por 5 x 0 uma queda e uma passagem de guarda. Aquele campeonato que entramos sem muita pretensão tinha sido de fato um grande evento e seria o inicio da série de 27 edições que temos até hoje como o principal evento de Jiu jitsu do mundo.

A equipe nova União foi a campeã geral do mundial de 1996, depois da criação de nossa equipe em 1993 alguns movimentos de fusão entre academias da mesma origem se tornaram comuns na formação das equipes, a Nova União foi a fusão da escola do Dedé Pederneiras com o Wendell do Melo Tenis Clube no subúrbio do Rio de Janeiro.

A Alliance teve um bom resultado mas não suficiente para ganharmos, isso aconteceria um pouco mais a frente.

O Jiu Jitsu começava a ganhar um destaque internacional mais real após 3 anos de UFC e de Royce Gracie multiplicando o número de fãs e curiosos em saber o que era o brazilian Jiu Jitsu, Royce lutou 5 ediçoes do UFC que ficou sem brasileiros de destaque até a luta do Amaury Bitetti no UFC 8 contra o wrestler Don Frye que o venceu, sinal de alerta havia sido ligado os gringos estavam aprendendo a se proteger do Jiu Jitsu.

Em agosto seria a minha vez de representar o Jiu Jitsu e o Brasil no UFC XI, seria como sempre um torneio de 3 lutas, estavam em minha chave nomes como Tank Abbott, Mark Coleman, Jerry Bolander, Scott Ferrozo entre outros. Lutei com Jerry Bolander em uma luta de 15 minutos dos quais ele segurou na grade para não cair para não ser raspado e até para tentar me estrangular rs, ao final os juízes deram a vitória para ele, mesmo eu não tendo tomado um soco se quer, perdi a luta.

Mas a história do UFC me reserva outras lembranças muito legais, fiz meu treinamento todo nos EUA sob a tutela do mestre Rickson Gracie, fomos eu, Traven (que lutou o evento como alternate)e nosso treinador de boxe Claudinho Coelho, moramos em Marina Del Rey por 2 meses na casa de um grande amigo ( Fernando Withauper)  e aluno que estava fazendo faculdade em LA e que gentilmente nos convidou para ficar com ele. Treinávamos com o Rickson todos os dias as 14hs e tínhamos treinamento de musculação na Golds Gym de Venice a meca do Fisiculturismo e o outro período boxe e preparação física variada, treinamos muito e atingi um novo padrão de preparo físico e técnico que me ajudaria nos anos seguintes em minha carreira.

Ao final do treinamento na semana da viagem para Augusta, Goergia onde a luta aconteceria tive a noticia que o Rickson não poderia me acompanhar em meu corner como havia sido combinado por uma questão pessoal/contratual com o Japão, confesso que não entendi muito na hora e fiquei um tanto decepcionado em não te-lo em meu corner, afinal ele tinha me treinado, por outro lado sempre fui grato por essa oportunidade e além do mais eu teria meu mestre Jacaré comigo como sempre e isso me confortava e fomos para a luta.

Minha relação com o Rickson foi construída desde 1989 quando fui aos EUA pela primeira vez, ele me recebeu muito bem, assim que cheguei fui até ele entregar um presente que eu havia levado, eram 20 copos de requeijão (ele adorou kkk)  coisa que não existia nos EUA e era muito valorizado na dieta Gracie, treinamos por algumas vezes nessa viagem e depois fomos diminuindo os intervalos, tive a oportunidade de aprender com ele durante vários anos, logo quando recebi o convite para a luta no UFC foi natural consulta-lo e fiquei muito feliz com a oportunidade de poder ser treinado pelo mestre.

O vale tudo sempre foi para mim uma ferramenta usada pelo jiu jitsu para provar sua eficiência e desde 91 ter enfrentado os desafios que se apresentaram em meu caminho sem dúvidas me trouxe a oportunidade de viver o mundo da luta em sua plenitude e junto com isso ajudar a colocar a Alliance na história de nossa arte marcial.

Eu ainda teria mais uma grande oportunidade de me provar como lutador, em 1997 os eventos aconteceriam de forma inversa a 1996, o mundial seria em Junho e o WVC (world vale tudo Championship) em Janeiro, eu teria minha revanche contra Jerry Bolander meu algoz no UFC XI, mas o destino reservaria outra surpresa que contarei a vocês em detalhes no próximo capítulo.

 

CAPÍTULO #8

O ano de 1997 começou intenso, uma possível revanche de minha luta com Jerry Bohlander pelo UFC XI estava finalmente assinada, ele veio ao Brasil, fizemos o “media day”, encarada e tudo mais, tudo pronto era só intensificar o treino, passei Natal e Reveillon treinando forte, passei algumas semanas no Rio onde treinava boxe na Nobre Arte com o professor Claudio Coelho e também onde tinha melhor qualidade de treinos de jiu jitsu, a academia Master havia se mudado para a praça Nossa Senhora da Paz em uma academia bem menor, o Jiu jitsu no Rio de Janeiro começava a sentir os efeitos do foco na competição e as academias já não tinham tantos alunos.

Mas o meu foco naquele momento era o Vale tudo e minha luta se aproximava, porém a 15 dias da luta, na primeira semana do ano fui informado que meu adversário não havia assinado o contrato, o promotor tinha tentado de tudo e não sabia mais o que fazer além de cancelar a luta, me fez então duas propostas eu poderia lutar com algum substituto na super luta da noite ou entrar no torneio de 8 lutadores, 3 lutas na noite caso eu preferisse. Escolhi sem pestanejar o torneio, embora muito mais difícil (pois eu poderia aceitar ou não o adversário da super luta) era o que me desafiava mais, nunca havia lutado 3 vezes na mesma noite e meus adversários eram variados.

Acordo feito entrei no torneio, chegamos ao Maksoud Plaza para o encontro de regras e sorteio das chaves, só então conheci os lutadores e entre eles estava um wrestler americano acompanhado do treinador Richard Hamilton, o mesmo que treinou Don Frye e Mark Coleman, lembro de ter comentado, é com ele que vou fazer a final, Mark Kerr era o nome dele.

Foi uma experiência incrível e minhas previsões se confirmaram fizemos duas lutas cada um antes de lutarmos uma final de 30 minutos ininterruptos, ele saiu campeão do torneio mas essa luta talvez tenha sido a de maior aprendizado em minha carreira, isso talvez seja assunto para um livro em algum momento, aqui é apenas para contextualizar o que aconteceu com a Alliance nessa fase.

Esse evento e a luta contra o Mark Kerr teve uma enorme repercussão no Brasil, com transmissão pela TV Bandeirantes e dezenas de reprises, eu podia sentir o reflexo nas ruas, mas isso não se traduzia exatamente em aumento do numero de alunos em minha academia que andava de lado, eu tinha uma faixa de 300 alunos na época mas começava a sentir a necessidade de uma melhor gestão.

Mal descansei da guerra no WVCIII já estava na hora de me preparar para o segundo mundial dessa vez em junho, sempre que tínhamos um campeonato importante a Alliance se reunia para tentar organizar a melhor equipe, as vezes através de seletivas internas as vezes em discussões intermináveis dos professores.

Montamos a equipe e fomos competitivos mais ainda não foi esse ano que conseguimos o título, eu consegui o bi campeonato no peso pesado e fui vice campeão no absoluto, fiz uma luta boa contra meu arqui rival Amaury Bitetti e a luta terminou empatada em 1 x 1 em vantagens, o arbitro levantou o braço dele, fui questiona-lo e ouvi: dei pra ele porque você já havia ganhado a categoria!!! Como assim???? Que critério é esse???? Mas era tarde demais e minha chance de ser campeão mundial absoluto se foi.

Na sequencia do Mundial teríamos o Brasileiro e um novo problema surgiu, a CBJJ era bastante criticada devido a sua proximidade com a Gracie Barra ( Barra Gracie na época) Carlinhos era o presidente das duas instituições e criticas sobravam de beneficiamento nas chaves e em outros assuntos, eu não me envolvia muito politicamente pois era atleta e a competição era minha prioridade mas o Gigi se envolveu e estava a frente da criação de uma nova federação, as principais academias aderiram ao movimento, Carlson Gracie, Nova União e Alliance boicotaram o campeonato Brasileiro que aconteceu com muito menos brilho, a suposta federação nunca saiu do papel e tudo voltou ao normal, essa tentativa aconteceria novamente e com consequências bem mais graves para nossa equipe.

Começávamos a sentir a necessidade de nos organizar porém não tínhamos nenhuma fonte de renda e da forma como começamos as pessoas não estavam dispostas a pagar absolutamente nada para fazer parte, nem os atletas e tão pouco os professores.

Precisávamos pensar em algo, tudo era muito descentralizado o que tornava ainda mais difícil, no entanto os resultados e o destaque foi de certa forma colocando as peças no lugar mas ainda estávamos longe de um entendimento comum, tive uma idéia que seria a base de como funcionamos hoje, apresentei ao grupo em uma de nossas reuniões um pouco antes do brasileiro de 98 mas isso é assunto para outro capitulo, até porque não funcionou kkkk. Ate semana que vem!

 

CAPÍTULO #9

A necessidade de organização era evidente, precisávamos de uma gestão de nossa equipe, crescíamos por todo o Brasil porém não havia quase nenhuma regra, fazíamos as seletivas para selecionar o melhor time para os campeonatos, no entanto, isso não era mais suficiente e a velha ideia de melhorar a vida do atleta sempre aparecia nas discussões, a questão era como até hoje, sim concordo, mas da onde viria o recurso?

Não existia absolutamente ninguém no mercado com uma mínima organização, sem benchmark no jiu jitsu, começamos a olhar para fora em busca de uma luz, uma ideia. Vitória era um polo forte de nossa equipe e de lá veio uma possibilidade a ser estudada, a capoeira tinha e ainda tem uma tradicional equipe liderada pelo Mestre Camisa, o grupo Abada. Me informei através de alunos nossos que eles tinham um espécie de fundo onde cada aluno doava uma quantia muito baixa mas que o volume era grande e com esse dinheiro eles conseguiam ajudar os professores a difundir a capoeira pelo mundo. Eles tinham também escolas pelo mundo que remetiam recursos para que a organização pudesse ajudar atletas e preparar eventos, enfim conseguiam ter um fundo com recursos para ajudar a equipe e todos os seus membros. Era uma ideia ainda longe para a Alliance mas entendi que fazia sentido e comecei a trabalhar em um rascunho de como poderia funcionar nossa equipe. Escrevi um projeto do que seria nosso estatuto e estava muito animado para apresentar para todos o projeto.

Marcamos um encontro um pouco antes do Brasileiro de 98, uma reunião como as outras que já relatei em capítulos anteriores onde reuníamos muita gente e tínhamos discussões acaloradas e na maioria das vezes improdutivas, mas dessa vez seria diferente pois eu tinha um projeto definido e seria um assunto importante, tínhamos ainda a diferença que mestre Jacaré estava no Brasil e iria participar, adiantei o assunto com ele para prepara-lo e com outros integrantes também, estava tudo pronto.

A reunião infelizmente (ou felizmente) não aconteceu como eu desejava, o plano for rechaçado, acharam que eu queria controlar o time e derrubaram a proposta por completo, concordaram que deveríamos ter um coordenador único, porém elegeram um faixa roxa para gerenciar a equipe, e vi minha proposta ser enterrada e lembro que senti bastante a forma como perdi essa disputa. Anos depois refletindo sobre esse episódio percebo que o fato de eu ter escrito o plano praticamente sozinho foi um erro, eu deveria ter dividido o processo, o que com certeza teria melhorado o projeto e ganhado apoio das pessoas que dele participaram. Foi um momento difícil, mas aprendi que não se ganha todas e que nem por isso deve-se desistir do que se acredita. O responsável pelo time, eleito pela votação cometeu uma serie de erros já no primeiro campeonato pelo qual ele ficou responsável, isso gerou uma tremenda insatisfação e ele logo foi destituído do cargo, voltamos a estaca zero em termos de organização, esse mesmo aluno anos depois seria um dos articuladores do racha da Alliance que certamente será objeto de um capitulo no futuro próximo pois é parte fundamental de nossa história.

O ano de 98 continuaria sendo um ano difícil para mim mas não para a Alliance como um todo. Fomos campeões mundiais pela primeira vez e pela primeira vez eu perdi uma final de mundial para o Saulo Ribeiro, existe uma história paralela dessa história que acho interessante contar e peço que vocês abram um parênteses na história da Alliance para que eu faça esse relato e logo na sequencia retomamos.

Eu, desde 89 quando fui aos EUA pela primeira vez havia estreitado minha relação com o Rickson, tinha organizado um seminário para ele em São Paulo em 1995 e treinávamos sempre que possível juntos, eu aprendia muito e sou eternamente grato a ele por essa oportunidade, uma vez durante um treinamento em Teresópolis para uma de suas lutas que seria no Maracanãzinho mas que nunca aconteceu, ele veio conversar comigo que seu irmão Royler estava preocupado com nossa relação pois poderia um dia vir a me enfrentar e que não gostaria que o Rickson continuasse me ensinando, expliquei a ele que o Royler era muito mais leve que eu (peso pena e eu pesado) mas ele insistiu que poderia acontecer no absoluto, ao que respondi que se ele ficasse confortável eu me comprometia a não lutar com ele e ceder a vitória caso nos cruzássemos em algum campeonato, Rickson de pronto concordou e emendou, “se você não luta com o Royler, nenhum aluno abaixo de nossa escola luta com você” eu nunca pedi isso mas concordei pois meu objetivo era unicamente continuar aprendendo com ele, porém algo paralelo aconteceu e que eu não tinha a menor ideia que poderia causar algum desconforto, um amigo me ligou pedindo para organizar um seminário do Royce em São Paulo que o GM Helio Gracie viria também, juntamente como GM Rorion Gracie, prontamente disse que sim que eu poderia organizar e o fiz com muito sucesso, todos ficaram felizes. Existia, porém, uma rivalidade interna entre a família naquele momento, Rickson e Royler estavam de um lado da disputa e Rorion, Royce e GM Helio do outro, eu claro não tinha a menor ideia e isso nunca me foi falado ou explicado, mas hoje entendo que o Rickson entendia que eu não poderia ter organizado o seminário do Royce. O Saulo era aluno do Royler, se inscreveu na minha categoria sem que ninguém falasse nada, chegou a final do mundial comigo e lutou. Como eu não havia pedido nada, não esperava nada mas ali o acordo se acabou e houve a partir daquele episódio um distanciamento entre eu e o Rickson natural, tenho por ele uma enorme admiração respeito e gratidão como já dito aqui, mas nossos caminhos se separaram.

Voltemos a história da Alliance,  perdi o campeonato individual mas a nosso time venceu seu primeiro titulo e de uma forma emocionante, estávamos disputando ponto a ponto com a Barra Gracie e as categorias já haviam se encerrado, a ultima em disputa era o absoluto faixa roxa, não tínhamos ninguém pesado na disputa o que reduzia nossas chances, porém tínhamos um garoto que faria ainda muito barulho no mundo do jiu jitsu, nosso peso leve Fernando Tererê, ele começou a disputa vencendo bem a primeira luta mas já na segunda encontrou Alexandre Café que defendia a Barra Gracie e era um atleta super pesado e muito bom, a luta discorria como o esperado, Tererê estava tomando um amasso e a vantagem em favor do Café já era muito grande não havia mais chances reais de uma virada, a pá de cal se aproximava, Café foi para uma chave de braço e finalizou Tererê que bateu imediatamente, porém seu braço continuou sendo apertado mesmo depois da intervenção do juiz em uma atitude extremamente anti esportiva, o que ocasionou a desclassificação do atleta e consequentemente a vitória inesperada do Tererê, passamos para a semi final mas o problema havia aumentado de tamanho o adversário agora era o temido Rico Rodrigues, 120 kg, wrestler e excepcional competidor, ele viria a ser estrela do ADCC e UFC em um futuro próximo, mais uma vez uma luta horrível para o Tererê que perdia de 13 x 0 ate os últimos segundos de luta quando conseguiu sair de um ataque e pela primeira vez ficou por cima da luta, Rico foi obrigado a virar de 4 apoios para se proteger de uma passagem de guarda e tomou um ataque fulminante no pescoço, porém não tinha mais tempo e ninguém acreditava que ele bateria, eram pouquíssimos segundos, porém o juiz percebeu que uma baba escorria da boca do Rico e interpretou que o atleta estava inconsciente e mandou a luta parar, Tererê foi declarado vencedor e foi para uma quase impossível final. Tínhamos agora outro confronto direto contra a Barra Gracie, Rolls Gracie Jr. estava do outro lado e mais uma vez a vantagem de peso e tamanho era enorme, mas tudo parecia estar dando certo para nós tínhamos esperança e Tererê foi para a luta, começou perdendo mais uma vez e a luta já se encaminhava para o final, ele fazia guarda porém sem sucesso em suas tentativas de raspagem, todas bem defendidas pelo filho do lendário Rolls Gracie, o mestre de nosso mestre, de repente Tererê achou um bote no triangulo, porém muito mais leve não conseguiu evitar que seu adversário ficasse em pé para defender, mas era a ultima chance e Tererê subiu junto e com o triangulo semi encaixado se abraçou ao pescoço de seu oponente que não pensou duas vezes e se arremessou ao chão com toda a força, executando um golpe proibido (Bate Estaca) e sendo imediatamente desclassificado. Tererê campeão mundial absoluto faixa roxa e Alliance campeã mundial por equipes pela primeira vez, por uma diferença de apenas 2 pontos,  que festa, que alegria!!!!!

99 repetiríamos a dose, mas claro cada campeonato tem um historia diferente e essa fica pra semana que vem.

 

CAPÍTULO #10

No final do ano de 1998, tive que tomar uma decisão difícil. Não estava conseguindo gerir bem minha academia enquanto mantinha minha vida de atleta e professor, além de ajudar a Alliance a se organizar. O proprietário do imóvel decidiu dobrar o valor do aluguel, o que me levou à falência. Tive que fechar minha academia e transferir todo nosso grupo para o Projeto Acqua, uma academia maior localizada a poucos quilômetros de distância. Acreditava que teria uma infraestrutura melhor e que seria mais fácil administrar meu negócio. Além disso, aluguei uma casa ao lado da academia para abrigar meu escritório e um espaço dedicado às aulas particulares. Leonardo Vieira me pediu para trazer Fernando Tererê para São Paulo nessa época, para ajudá-lo nas aulas, pois eu estava focado em dar aulas particulares o dia todo. Estávamos motivados como equipe e entramos em 1999 com grande determinação.

Esse ano foi desafiador para mim como atleta, mas mais uma vez a equipe teve sucesso. Conquistamos o bicampeonato mundial pela IBJJF, vencendo o título na última luta do campeonato, assim como em 1998.

Motivados pelo primeiro título e com as equipes se fortalecendo nos três principais polos – Rio de Janeiro, São Paulo e Vitória – éramos os favoritos para o bicampeonato, enfrentando novamente a Barra Gracie. Decidimos organizar um acampamento para preparar nossa equipe e concentrar todos os alunos. Isso nunca tinha sido feito em uma equipe de jiu-jitsu, mas tivemos a oportunidade por meio de um aluno e amigo da minha academia em São Paulo, chamado Paulo Francês. Ele era dono de um centro de treinamento de futebol em Campo Limpo Paulista, no interior do estado. Visitei o local e achei sensacional, com toda a infraestrutura necessária para os atletas, incluindo quartos de hotel, refeitório e um amplo galpão onde poderíamos colocar o tatame, tudo cercado pela natureza. O Sítio Santa Filomena se tornou o lugar onde nossa equipe treinaria e ficaria junta por 10 dias antes do mundial. Organizamos os times, alugamos ônibus de viagem e fomos com aproximadamente 50 atletas. Pela manhã, fazíamos preparação física, seguida de treinos, e à tarde tínhamos outra sessão de treino técnico. Nos intervalos, havia muita interação entre os atletas, e a energia de união era palpável – um sentimento importante quando se está prestes a entrar em uma competição, sempre encarávamos os campeonatos como uma verdadeira batalha.

Poucas semanas antes, aconteceu um desdobramento do que mencionei no capítulo anterior: Leozinho Vieira decidiu lutar na categoria pena, onde Royler Gracie era o grande campeão. Isso ocorreu porque meu acordo com Rickson havia sido quebrado por Saulo Ribeiro no ano anterior. Concordei com a mudança, e eles fizeram a final em uma luta morna, vencida por Royler. No entanto, o assunto estava claro e resolvido, sem mágoas, mas com um claro distanciamento.

Nossa equipe competiu muito bem. Tivemos vários campeões nas faixas coloridas e chegamos ao campeonato de faixa preta cabeça a cabeça com a Barra Gracie. Infelizmente, perdi a semifinal para Murilo Bustamante, o que significou minha primeira vez fora das finais do mundial. Mas seria o ano em que outros fundadores brilhariam: Roberto Traven conquistou o bicampeonato, e Alexandre Gigi Paiva foi campeão na categoria médio. No entanto, a competição continuou acirrada até o final e só seria decidida no absoluto. A final da categoria aberta foi entre Roberto “Roleta” Magalhães, da Barra Gracie, e Rodrigo “Cumprido” Medeiros, da Alliance. Quem vencesse garantiria o título para sua equipe. A luta começou com um estudo mútuo, mas logo Roleta puxou para sua temida guarda. Cumprido parecia se preparar para fazer a passagem quando, de repente, aplicou um bote certeiro em uma chave de pé e finalizou a luta com menos de 1 minuto, para delírio de toda a torcida da Alliance. Éramos bicampeões mundiais.

O ano não acabaria aí, pois a segunda edição do ADCC aconteceria no segundo semestre, e eu e Traven fomos convidados. Chegamos em Abu Dhabi e tudo era muito diferente. O simples fato de estarmos viajando internacionalmente para competir já era algo extraordinário. Lembro de chegar ao ginásio para a pesagem e ser abordado por uma árabe que me ofereceu 5 mil dólares para lutar por sua equipe. Respondi que meu time era a Alliance, ao que ela respondeu: “Claro, não precisa mudar isso. É só você usar esta camiseta ao caminhar até o tatame e tirar uma foto com o grupo depois”. Eu disse que estava com Traven, e ela ofereceu 8 mil pelos dois. Aceitamos, é claro, e fizemos parte da equipe patrocinada pela Saadyat. Perdi na minha segunda luta, mas Traven foi campeão absoluto naquele ano. Foi uma experiência incrível. Depois, eu voltaria a Abu Dhabi várias vezes por outros motivos que contarei ao longo dos capítulos, mas aquele ano sempre será marcado na minha memória como o primeiro contato com aquela cultura e o início da relação entre o jiu-jitsu e aquele país.

Até a semana que vem, no próximo capítulo.

 

 

CAPÍTULO #11

O ano de 2000 marcou mais um momento importante em minha carreira como professor. Eu estava liderando uma equipe de alto nível em São Paulo, o que me trazia a responsabilidade de ser um exemplo para os outros e, consequentemente, me manter em excelente forma física. Com 30 anos de idade, já começava a preocupar-me com o futuro e como poderia aprimorar minha academia. Apesar disso, ainda era um atleta competitivo e a presença de atletas como Tererê, Leo Negão, Demian, Robertinho Schumacher e Telles me incentivava a continuar treinando duro.

Nossos treinos envolviam tiros na rampa da bienal do Ibirapuera, escadarias no Sumaré, musculação e muito jiu-jitsu. O foco estava no Mundial, e todos estávamos determinados a conquistar o inédito tricampeonato por equipe.

Nesse ano, decidi me inscrever no campeonato estadual do Rio de Janeiro, uma oportunidade que eu não aproveitava há muitos anos, mas que me proporcionaria um ritmo competitivo ideal para o Mundial. Esse torneio não teria tanta importância se não fosse pelo fato de eu ter a chance de lutar contra um dos maiores atletas da escola Carlson Gracie, Ricardo Libório. Nos enfrentamos na final da categoria peso pesado, e eu consegui vencer por 2×0 com uma queda.

Eu estava pronto para o Mundial, que mais uma vez aconteceria no Tijuca Tennis Clube. Após três lutas, cheguei à final contra o super talentoso atleta da nova geração, Ricardo Arona, também da escola Carlson Gracie. Consegui abrir o placar fazendo uma vantagem com uma queda, o que o obrigou a me puxar para a guarda. Consegui escapar de uma tentativa de triângulo sem braço e conquistei os 3 pontos da passagem para me sagrar tricampeão mundial. Mais uma vez, eu ganhei o título de forma individual, mas nossa equipe não conseguiu o tricampeonato coletivo.

No geral, a Alliance estava indo bem. Tínhamos uma grande equipe que estava crescendo em número de filiais pelo mundo. Jacaré estava se consolidando em Atlanta como uma referência no jiu-jitsu na região sul dos EUA. No entanto, a academia Strike, do Gigi e do Traven, começava a enfrentar sérios problemas internos entre os sócios, o que resultou na primeira divisão dentro da equipe. Foi uma situação muito complicada para todos, pois, de certa forma, dividiu a equipe, embora ainda não de forma oficial.

Minha academia em São Paulo também passou por momentos difíceis. Como mencionei em capítulos anteriores, eu havia mudado para dentro do Projeto Acqua, uma grande academia na Vila Olímpia, e havia alugado uma casa ao lado para minhas aulas particulares, além de outra casa na mesma rua onde moravam os professores. Reduzi significativamente minhas aulas coletivas e confiei que os professores dariam conta das turmas enquanto eu me dedicava integralmente às aulas particulares. No entanto, o negócio não funcionou como o esperado e nem poderia. Foi uma lição dura, mas importante. Minha academia, que chegou a ter 200 alunos, diminuiu para pouco mais de 80. Precisei retomar as aulas coletivas e reorganizar minha rotina. Nessa época, cheguei a dar entre 10 e 12 aulas por dia, entre particulares e coletivas, número que mantive por muitos e muitos anos.

Entretanto, surgiu uma questão delicada: o que fazer com os professores que, por diversos motivos, não conseguiram corresponder às minhas expectativas, mas que ao mesmo tempo dependiam da academia? Esses professores eram o Leo Vieira e o Fernando Tererê. Decidi trocar um aluno particular que eu atendia em casa pelo Leo, proporcionando-lhe uma cobertura financeira, e ainda consegui uma academia em Moema para que ambos dessem aulas. Na minha mente, eu havia encontrado uma solução para contornar a crise, permitindo que eu voltasse a atender meus alunos e, ao mesmo tempo, oferecesse uma nova oportunidade aos professores. No entanto, olhando em retrospecto, talvez esse tenha sido um passo mal planejado ou, no mínimo, mal conversado, pois acabou gerando um afastamento silencioso do Leo dos treinos. Não houve brigas, apenas um distanciamento gradual.

Tererê voltou a treinar e eventualmente a dar aulas em alguns horários, e a academia seguiu em frente. Contudo, sem eu perceber, uma bomba-relógio estava se formando.

Apesar dos desafios, a vida continuava e, como de costume, fiz minha turnê de seminários pela Europa. Finlândia e Alemanha eram meus principais destinos, passando por Helsinque, Turku, Berlim e Frankfurt. Foi durante essa última parada que aconteceu um encontro que mudaria minha história e a da Alliance como um todo, mas isso fica para o capítulo da semana que vem.

 

CAPÍTULO #12

Em 2001, conquistei meu último título mundial, mas também enfrentei o início de uma crise.

O ano começou promissor, e os trabalhos seguiam como de costume. Cuidar da academia era a nossa prioridade, e eu viajava para academias internacionais para ministrar seminários. Nova York, Helsinque, Frankfurt e Berlim eram destinos habituais, e sempre surgiam novas oportunidades para expandir nossa bandeira.

Gigi estava no Rio, e Jacaré em Atlanta, ambos cuidavam de suas academias e viajavam para seminários com o mesmo propósito. Esse era o modelo de negócio do jiu-jitsu na época. Inicialmente, era empolgante viajar o mundo e ser remunerado em moeda forte. No entanto, essa prática começou a afetar nossa rotina, pois quanto mais academias abríamos, mais tempo precisávamos ficar fora. Isso, por sua vez, prejudicava o crescimento das nossas academias. Percebemos gradualmente a necessidade de ter uma equipe qualificada não apenas no tatame, mas também na gestão do negócio.

Apesar desses desafios, nossos treinos continuavam intensos, e nossa equipe se fortalecia. O time de São Paulo estava mais experiente, e apesar da ausência temporária de Leo Vieira, outros atletas como Tererê, Leo Negão, Demian, entre outros, evoluíam constantemente.

Chegou a hora de mais um mundial, eu estava com 31 anos e me sentindo bem preparado. Formei dupla com Rodrigo “Cumprido” Medeiros em minha categoria. Embora ele já fosse bicampeão mundial absoluto, nunca havíamos alcançado juntos a final. Nas semifinais, enfrentamos os dois atletas da Gracie Barra, Fabio Leopoldo ao meu lado e Jeferson Moura ao lado de Cumprido. Vencemos nossas lutas ao mesmo tempo e nos classificamos para a final juntos pela primeira vez. Normalmente, as equipes fechavam as categorias sem lutar, e o mais graduado levava o título. No entanto, como as finais seriam transmitidas ao vivo pela Sportv, decidimos lutar em uma demonstração acordada previamente. Conquistei meu quarto título mundial na faixa preta, e a Alliance não conquistou o título, mantendo o tabu de que quando eu vencia individualmente, o time não conquistava o título, e vice-versa. Nunca comemorei uma vitória plenamente, mas também nunca saí sem um título do Tijuca enquanto competi.

Essa foi minha despedida dos mundiais, uma decisão difícil, porém necessária. Aprender a fazer transições foi crucial, pois envolvia preparação para uma nova fase e desprendimento do que já estava estabelecido. Deixar de competir como tetracampeão mundial visava provar minha capacidade como professor e técnico de uma equipe de jiu-jitsu. Sentia-me pronto, mas não esperava os desafios que estavam por vir para complicar meus planos.

Após o mundial, foquei no desenvolvimento da minha academia. Lembro-me de uma ligação preocupada de meu pai, questionando como a academia sobreviveria agora que eu não seria mais o destaque do esporte. Eu também tinha dúvidas semelhantes, mas acreditava que poderia me dedicar mais aos meus alunos e deixar de lado o lado egoísta do campeão. Acreditava que esse compromisso integral poderia fazer minha academia crescer, e foi isso que expliquei para tranquilizar meu pai.

Continuei no Projeto Acqua, uma academia com ótima estrutura. No entanto, surgiu o boato de que o prédio seria vendido, o que tornaria a situação insustentável. A direção da academia optou por não ser transparente conosco, os professores e inquilinos, e criou dificuldades para os alunos, chegando a impedir o acesso em uma ocasião. Foi preciso sair e encontrar outro local.

Em conjunto com dois grandes professores e amigos, Fabio Guimarães, renomado professor de ginástica, e Kiko Frisoni, que tinha uma escola de squash bem-sucedida, decidimos sair juntos para montar nossa academia. Encontramos um lugar incrível no mesmo bairro, mas o investimento era significativo, e não tínhamos os recursos necessários. Buscamos investidores e encontramos um aluno disposto a investir, mas, após diversas reuniões e planejamentos, não chegamos a um acordo econômico, e o sonho teve que ser abandonado. Estávamos prestes a ficar sem um lugar para dar aula em poucos meses.

Do outro lado da avenida, havia uma academia chamada Olimpia, que havia encerrado o contrato com a equipe do Ryan Gracie. O proprietário me procurou para saber se eu estava interessado em ocupar o espaço. A proposta era excelente, e em duas conversas, acertamos os termos gerais de nosso acordo. Os alunos não sentiriam a mudança, já que estaríamos a menos de 3 minutos de distância.

Com o problema resolvido, era hora de trabalhar duro em 2002. A mudança de academia nos renovou o ânimo. Implementamos uma metodologia para os professores, fortalecemos nossa equipe de competição com a chegada de Marcelinho Garcia, que havia se mudado para São Paulo junto com a Tati Tognini. Tudo parecia indicar que 2002 seria um bom ano, mas as adversidades estavam a caminho.

Na semana que vem, falarei sobre o período mais difícil da história da Alliance e suas consequências

 

 

CAPÍTULO #13

Um Ano Difícil

O ano de 2002 começou animado com a mudança de academia. Novos ares sempre motivam a revermos os processos e fazermos melhor. A academia estava com um número sólido de alunos, por volta de 200. Além disso, eu tinha uma rotina intensa de aulas particulares e tínhamos conseguido um bom acordo com a academia Olimpia, que ficaria com 20% do nosso faturamento, incluindo toda a infraestrutura de luz, água, limpeza e manobrista. Todos os nossos alunos também teriam direito ao uso da musculação (lembrarei de um caso interessante relacionado a esse direito em um capítulo futuro). Assim, mudamos para a Olimpia.

No novo espaço, tínhamos um escritório, uma boa recepção e um ótimo tatame. Pela primeira vez, uma cortina separava o fundo do tatame para minhas aulas particulares. Eu seguia com minha rotina de 5 aulas particulares pela manhã, treino principal ao meio-dia, pausa para o almoço e retorno às 16h para mais aulas particulares e coletivas até as 21h30. As coisas estavam funcionando bem.

O calendário da IBJJF não era tão definido como é hoje, mas tínhamos um campeonato bastante concorrido e divertido para lutar, o Brasileiro por Equipes, onde cada equipe escalava 7 atletas por categoria, com 3 pesos nas faixas coloridas e apenas 2 na marrom/preta que lutavam juntos. Esse campeonato estava marcado para o início do ano.

Em certo dia, recebi uma ligação do Luizinho da Nova União, uma espécie de patrono/investidor da equipe comandada tecnicamente pelo craque André Pederneiras, o Dedé, e pelo Wendel. Ele me disse que havia brigado com o Carlinhos Gracie e que estava montando uma federação para concorrer com a CBJJ/IBJJF. Ele ofereceu dinheiro para os atletas, argumentando que era absurdo que, naquele momento do esporte, os atletas lutassem apenas por medalhas. Ouvi a explicação e o plano, mas me pareceu mais uma questão de vingança do que um movimento propositivo para o crescimento do esporte. Na mesma ligação, argumentei que não era uma boa ideia dividir o esporte em duas federações, pois isso já havia sido tentado em 1997, inclusive com um boicote de algumas equipes ao campeonato brasileiro. Sugeri que deveríamos conversar e encontrar um bom termo para todos, mas ele estava irredutível. Por fim, disse que não poderia apoiar esse movimento que claramente afrontava a federação que, em minha opinião, fazia bem ao esporte. Sugeri, por último, que ele não realizasse o evento na mesma data, como era sua proposta inicial, para que pudesse provar que seu campeonato era melhor, e o mercado decidiria a melhor estrutura sem a necessidade de ruptura. Ele não concordou e afirmou que já havia conversado com alguns de nossos atletas e que eles iriam lutar. Expliquei que não era assim que as coisas funcionavam dentro da nossa equipe, e desligamos amistosamente o telefone.

Em seguida, nossos atletas pediram uma reunião para expressar sua visão, que basicamente era “queremos lutar por dinheiro”. Hoje entendo essa vontade, assim como entendia naquela época. No entanto, eu questionava se isso era possível. Existe um sistema que sustente essa vontade? De onde viria o dinheiro, por quanto tempo? Valeria a pena comprar essa briga contra a federação? Expus essas questões e relatei a minha conversa com Luizinho, mas eles não se convenceram e seguiram com os movimentos internos e conversas entre os atletas da minha academia e de outras que faziam parte do nosso time de competição. O movimento ganhou força e influenciou quase todos os nossos atletas de competição. Na minha academia, estavam Tererê, Demian Maia e Eduardo Telles, além dos que já não frequentavam há algum tempo, como Leo Vieira. O polo do Rio de Janeiro também era forte na época, e tinha no comando os fundadores Gigi, Traven, Magrão (meu irmão), Castelo Branco e Vini, além de Jacaré, que já morava nos EUA. Marcamos uma reunião para discutir e decidir se a Alliance participaria ou não do campeonato. Vini estava em viagem e Jacaré também não participou, pois estava nos EUA, então tínhamos cinco votos válidos. A minha posição de não participar venceu por 3 a 2, e o assunto parecia encerrado. Mas não foi bem assim.

Alguns dias após a reunião encerrada os atletas ligaram individualmente para o Vini, que estava na cabine do avião quando atendeu a chamada, e conseguiram dele um “por mim tudo bem lutar”. Em seguida, ligaram para Jacaré, que também estava fora do contexto como um todo, e tiveram a mesma resposta. Assim, declararam que haviam virado a votação e que haviam conquistado o direito de lutar. Isso poderia ser chamado de insegurança jurídica em qualquer lugar sério, pois já tínhamos decidido, e os votos fora da mesa de discussão e sem ouvir todos os argumentos não poderiam ter validade. Essa virou a disputa.

A CBJJO ajustou o cronograma para as disputas da faixa preta não ocorrerem no mesmo dia do torneio da CBJJ, mas os dois campeonatos aconteceriam no mesmo final de semana.

Eu não concordei, não autorizei, mas não tinha como evitar que os atletas fossem lutar. Eles competiram no sábado no Rio e voltaram para lutar no domingo no campeonato da CBJJ (perdemos a final para a Gracie Barra).

No dia seguinte, sentia uma mistura de raiva com forte decepção. Meus alunos haviam me desautorizado, passando por cima da minha decisão e ferindo todos os princípios que sempre foram invioláveis em nossa escola. Chamei os três para uma conversa. Minha vontade era expulsá-los da academia e da equipe e não olhar para eles nunca mais, mas sabia que tomar decisões com as emoções à flor da pele não seria inteligente nem produtivo. A conversa foi triste, mas amena. Não houve brigas ou ofensas, eles reforçaram o respeito que tinham por mim e cada um expressou a sua opinião pela qual se basearam para lutar o campeonato. Para minha surpresa, na época, eram três motivos diferentes. Decidi não expulsá-los, pois, apesar da raiva, eu amava aqueles garotos. Propus uma suspensão de 90 dias, o que foi imediatamente aceito, pois eles provavelmente esperavam uma punição mais severa.

No entanto, o problema não acabaria ali. Durante esse prazo de suspensão, aconteceria o campeonato mundial, e eles não poderiam lutar. Mas, claro, eles não pensaram nisso quando receberam a suspensão e nem aceitaram ficar de fora do torneio mais importante do ano. Mais uma vez, a CBJJO organizou um torneio na mesma data, apenas com cronogramas distintos, o que fez com que apenas alguns atletas lutassem nas duas organizações, criando a separação que eu previra lá atrás.

Após não aceitarem cumprir a suspensão e com o apoio do restante dos atletas, a situação ficou insustentável, e o racha foi inevitável.

Na hora da saída, todos os nossos atletas foram convidados a fazer parte do movimento, com frases como: “Você tem que vir com a gente, o Fábio vai ficar sozinho”. Embora eu tenha ficado quase sozinho, não fiquei completamente, muita coisa desleal aconteceu nesse período, o que me fez repensar os valores de amizade, lealdade e respeito. Por outro lado, outras demonstrações me fizeram seguir acreditando em tudo isso com ainda mais convicção. Um nome que se posicionou contra todo esse movimento e começou a escrever um novo capítulo da história de nossa equipe foi Marcelinho Garcia, ainda faixa marrom, ele teve a personalidade de negar todos os convites de quem saía da academia, e por isso ele será o personagem do nosso próximo capítulo, na semana que vem.

 

Capítulo #14

Marcelinho Garcia.

O ano de 2003 começou de forma muito difícil e triste, eu não conseguia acreditar que nossa equipe havia se dividido de maneira tão drástica e inesperada, era um misto de revolta e decepção junto com um medo de meu projeto de vida ter de alguma forma se esvaído.

O time de competição foi praticamente todo embora, existiam os atletas de minha academia e junto a eles quase toda a turma do Rio e de Vitória que eram nossos principais polos. Quando isso aconteceu nossos alunos começaram a receber ligações e convites de todos os lados para que saíssem também, alguns poucos foram.

A academia ficou em um clima ruim, sem energia, com poucos alunos. Nosso time ficou com um atleta que nem faixa preta era mas que todos já reconheciam como um talento, tendo sido ele campeão nas faixas anteriores tentaram de tudo para leva-lo, mas ele foi resistente a ideia e disse que havia se mudado para São Paulo para treinar comigo e não pretendia mudar os planos, Marcelo Garcia decidiu ficar e esse gesto tem uma importância fundamental em nossa historia, fora o fato de ser um dos mais dedicados e disciplinados alunos que já tive, ele fez algo maior por mim, ele me trouxe de volta da tristeza da ingratidão que eu sentia, eu entendi que tinha alguém a quem eu poderia ajudar e que não merecia aquela amargura de minha parte, voltei rapidamente a me dedicar aos treinos e fomos construindo vitórias juntos, Marcelinho era o exemplo de todos na academia e nosso time timidamente voltou a crescer.

Um belo dia recebemos um convite para ele lutar um evento em Campos dos Goytacazes, lembro que ele não se animou muito, mas coloquei uma pilha pois sabia que teriam grandes nomes no evento e embora a logística fosse péssima, ele foi, era um torneio sem kimono, modalidade que ele ainda não tinha muita experiência pois havia começado a treinar conosco em São Paulo já de faixa marrom, lembro do dia que a Tati minha aluna e namorada dele na época (hoje esposa faixa preta e mãe dos filhos) trouxe ele para um treino ainda no Projeto Acqua e a aula era sem kimono, ele nunca havia treinado, pouco tempo depois ele era o grande destaque de um torneio duríssimo repleto de estrelas.

Aquele campeonato abriu a oportunidade para ele lutar a seletiva do ADCC no Rio, la fomos nós para mais um grande teste, Marcelinho mais uma vez foi a sensação do torneio finalizando todas as lutas ate a final onde foi parado em uma luta muito travada e frustrante, perdemos a vaga pois só o campeão da seletiva seria convocado, Daniel Moraes foi o campeão.

Como sempre na derrota ou na vitória segunda feira era vida normal e seguimos trabalhando, meses depois era o evento oficial do ADCC em São Paulo, como eu não teria atleta na disputa marquei uma palestra para uma empresa na Bahia, porém na quinta feira a noite antes da pesagem que seria na sexta, o organizador da seletiva meu amigo Marcelo Tetel me ligou e perguntou: Fabio, o Marcelo esta no peso? Tem um americano que não conseguiu embarcar e tem uma vaga pra ele, mas ele precisa estar aqui para pesar amanha cedo. Liguei pro Marcelinho que sabia obviamente que não estava no peso e disse, pega o tênis e vem pra academia que você vai lutar o ADCC! Ele nem questionou mas chegou quase 3 kilos acima do peso, corrida e desidratação para bater os 77kg oficiais, na manha seguinte deu tudo certo e estávamos dentro do ADCC, no entanto eu não poderia estar pois viajei na mesma sexta para o evento que seria no Sábado, acompanhei pelo telefone as duas lutas daquele dia, que eram simplesmente contra Shaolin e Renzo Gracie, nunca quis tanto estar em um lugar, mas não podia, cheguei no domingo cedo e fomos para as finais, Marcelinho seguiu dando show e foi campeão até 77kg, mas o que sempre fez ele ser diferente é que ele nunca esteve satisfeito, se inscreveu no absoluto e deu mais um show, sendo parado apenas pelo Pe de Pano nas semi finais.

O mundo abriu os olhos para aquele menino gente fina, tímido e extremamente talentoso começava ali uma das carreiras mais vitoriosas do jiu jitsu e uma nova era no entendimento de como se lutar sem kimono, Marcelinho revolucionaria a guarda de gancho, a guarda X criaria a guarda one leg X , o seat belt nas costas entre tantas outras técnicas.

Tivemos juntos momentos indescritíveis de alegria e sucesso, existia uma conexão que nunca havia tido com nenhum aluno e cada vitória era motivo de muito orgulho, claro tivemos derrotas doidas também mas nossa relação era de construção e sou extremamente grato pela confiança depositada no trabalho e pela generosidade de entender como eu precisava daquele suporte, a Alliance definitivamente só é o que é hoje porque teve Marcelo Garcia.

Depois a história é conhecida, Marcelinho se tornou um dos maiores nomes do jiu jitsu de todos os tempos, ganhou o mundo com sua simpatia e competência e onde quer que ele esteja meu coração estará sempre com ele.

 

Capítulo #15

Um passo de cada vez.

A fase com o Marcelinho foi intensa e muito divertida, eram muitas lutas casadas, campeonatos, seminários e viagens, mas a Alliance continuava fora do pódio no cenário competitivo, ir aos campeonatos, o que nunca deixei de fazer, não era prazeroso ainda carregava um sentimento ruim, uma não aceitação de porque tudo aquilo tinha acontecido com nosso time.

Por outro lado, seguíamos trabalhando na metodologia não só em nossa academia em São Paulo mas internacionalmente em nossas filiais, esses anos foram muito intensos de viagem para mim tentando implementar o sistema em várias academias e enfrentando a já esperada resistência por parte dos professores, a época das viagens eram normalmente no final do ano, ou seja no rigoroso inverno europeu, semanas na Finlândia, Alemanha, Inglaterra e onde mais conseguíssemos expandir, eu procurava explorar os lugares e conhecer outras culturas, melhorar meu inglês e contar aos nossos filiados os planos de onde queríamos chegar e a importância da metodologia, um trabalho de formiguinha, que as vezes parecia que não mexia nem um centímetro de um ano para o outro mas que aos poucos ia fazendo sentido para professores mais alinhados com nosso time.

Nos EUA o Jacaré crescia a sua academia em Atlanta e após algum tempo de não envolvimento com relação ao racha, pois ele entendia que ainda podíamos contornar a situação a corda esticou do lado dele, um dos integrantes do novo time que havia sido montado com o nome de Brasa pressionou o Jacaré para que ele tomasse um lado, que ele estava em cima do muro e precisaria decidir com quem ele ficaria, com a Alliance ou com a Brasa. Ao que nosso mestre respondeu: desculpe meu caro, mas essa não é a questão, sempre fui Alliance e nunca deixarei de ser, esse grupo que vocês montaram (Brasa) não me diz absolutamente nada, eu apenas gosto de vocês e tinha a esperança de que essa situação fosse de alguma forma contornada, mas entendendo que isso não é possível, ficarei exatamente onde estou e vocês sigam o caminho de vocês.

Esse momento foi de certa forma importante para nosso time, ter o Jacaré sem estar 100% envolvido tirava nossa força e fazia com o que a fase fosse ainda mais difícil.

Tirou um peso de minhas costas pois eu me sentia traído e ao mesmo tempo via meu mestre mantendo relação com pessoas que eu entendia eram as causadoras de todo aquele sofrimento, mas claro isso era uma visão pessoal e provavelmente destorcida da realidade, eu não tinha outra opção a não ser esperar e seguir trabalhando, e foi o que fiz até que finalmente tínhamos nosso mestre de volta e focado em reconstruir nosso time.

O Gigi que seguia dando aulas no Rio, estava focado em seus alunos particulares e com uma academia pequena no Leblon, mas se uniu para trabalharmos na organização e implementação da metodologia, fomos para Nova Iorque gravar os dvds com os programas, nosso filiado na cidade o professor Fabio Clemente era também videomaker e organizou nosso set de filmagens na academia, passamos dias ótimos na cidade e conversamos muito sobre os planos da Alliance para o futuro, entendíamos que a equipe de competição ainda demoraria um pouco a ser reconstruída mas que a metodologia ajudaria a termos melhores academias e isso deveria ser naquele momento nosso foco.

Nesse momento a academia de São Paulo passava por uma baixa no número de alunos e tivemos que renegociar o aluguel e diminuir nosso espaço pela metade, era como se precisássemos começar do zero, e foi o que fizemos, nos dedicamos a implementar a metodologia de forma inegociável, separamos os níveis de aula e seguíamos o programa, em pouco tempo começou a funcionar.

Nossas academias iam se reestruturando e aumentando o número de alunos, a metodologia funcionava exatamente como nós havíamos previsto e isso era animador.

As aulas particulares aconteciam em grande volume e eu seguia dando de 10 a 12 aulas por dia, essa cultura que estava sendo criada na academia faria uma grande diferença no futuro.

Esses anos os mundiais ainda aconteciam no Tijuca Tennis Clube e nosso único representante na faixa preta era o Marcelinho, que em seu primeiro mundial de preta chegou a final do peso médio contra ninguém menos que Tererê, era uma situação horrível mas queria muito que ele ganhasse mas não aconteceu, ele tomou um triangulo e saímos derrotados, era um sentimento difícil de digerir, mas seguimos em frente, não havia outra opção. Marcelinho viria a ser campeão em 2004 pela primeira vez na preta, em 2005 ele se machucou e não pode lutar e voltaria a vencer em 2006.

Esse ano de 2006 ainda não tínhamos uma grande equipe mas as faixas coloridas já trouxeram algum resultado, o clima nos campeonatos já era melhor, o Marcelinho venceu e notei pela primeira vez um talento que nos ajudaria a transformar mais uma vez nossa história, a categoria pena foi disputada entre o favorito Márcio Feitosa e o estreante em finais Rubens Cobrinha Charles que defendia a TT, iniciais de Telles e Tererê, eu assistia a luta da arquibancada quando sentou a meu lado o primo do Tererê, Elan Santiago a quem perguntei, quem é esse cara que esta matando o Feitosa? É o Cobrinha, respondeu ele! Impressionante falei, dê meus parabéns a ele, jiu jitsu refinado!  Na sequência da conversa ele me contou que o Tererê não estava bem, não estava conseguindo dar aulas nem estar na academia e que achava que o Cobrinha precisava de uma oportunidade, ficamos de falar sobre o assunto e nos despedimos.

Eu conheceria o Cobrinha pessoalmente em poucas semanas e vou contar a vocês como foi no capítulo que vem. Até a próxima semana.

 

CAPÍTULO #16

O ano de 2007 foi marcado por mudanças, e dois personagens tiveram grande destaque em nossa história. Tudo seguia normalmente em nossa equipe, e o foco estava em aprimorar nossa metodologia e unificar nosso ensino, o que é sempre um processo lento e desafiador. No entanto, nossas academias estavam melhorando em todos os aspectos. Entregávamos um jiu-jitsu de melhor qualidade aos nossos alunos e, embora ainda enfrentássemos resistência por parte de alguns membros da equipe, continuávamos evoluindo. A separação indesejada causada pela divisão anterior anos atrás estava nos ajudando a solidificar a implementação do método com menos contestações.

Tudo ia bem, mas nossa equipe, apesar de mostrar sinais de recuperação, ainda não havia recuperado toda a sua força. Parecia que teríamos que lidar com uma grande baixa. Marcelinho, que nessa época estava começando a viajar bastante para seminários e lutas, recebeu uma proposta para se mudar para os EUA. Perder Marcelinho naquele momento era como perder uma peça fundamental da equipe. Ele era a principal referência. No entanto, não permitir que Marcelinho saísse para os EUA poderia ser ainda mais custoso a longo prazo. A proposta era para ele se juntar à nossa filial em Nova Iorque, o que de certa forma fortaleceria nosso time lá. Nessa época, nossa equipe estava se tornando bastante descentralizada, com campeões vindos de diversos lugares, como Finlândia, Nova Iorque, Atlanta, São Paulo e Rio de Janeiro. Essa diversidade seria crucial para o sucesso futuro da nossa equipe. A decisão estava tomada: Marcelinho precisava ir. Não foi fácil vê-lo partir, mas mesmo indo embora, ele havia cumprido uma missão importante. Ele manteve o nome da nossa escola vivo e deixou uma marca duradoura em todos os alunos que compartilharam o tatame com ele ao longo daqueles quase 5 anos. Eu estava animado com tudo o que estava acontecendo e me sentia feliz.

No meio desse processo, recebi uma ligação sobre o atleta mencionado anteriormente, o Cobrinha. Marcamos uma visita dele à academia. Quando ele chegou, eu não tinha noção de que estava diante de um dos principais nomes da história da nossa equipe. A conversa começou comigo perguntando o que o trouxe até mim, ao que ele respondeu que precisava de um professor. Uma escolha acertada! Ao longo dos anos, recebi muitos atletas que queriam se juntar a um time campeão, buscando aproveitar o sucesso. Essa abordagem muitas vezes demonstra uma fraqueza ou falta de confiança em si mesmos, como se os atletas desejassem que alguém fizesse por eles o que é necessário para se tornarem campeões. Eu preferia a abordagem do Cobrinha, pois ela demonstrava uma escolha de vida em vez de uma escolha momentânea. Continuamos a conversa, e ele me contou que era aluno do Tererê e que não pretendia deixar sua academia. No entanto, Tererê estava doente há algum tempo, e Cobrinha estava preocupado em perder o timing certo para o auge de sua carreira. Perguntei se ele havia conversado com Tererê sobre isso. Ele então me disse algo que me deixou muito contente: Tererê havia sugerido que ele me procurasse, pois não podia ajudá-lo naquele momento. Isso foi como uma surpresa para mim. Naquela época, existia uma tensão devido à saída de alguns membros. Embora Tererê fosse um adversário em competições, tínhamos uma conexão genuína e um carinho mútuo. Receber essa indicação dele foi uma demonstração de admiração e carinho. Ele estava me enviando seu principal atleta, que a partir daquele momento também seria meu atleta.

Treinamos naquele dia, e logo pude perceber que tinha uma joia em mãos. Seu talento e dedicação disciplinada contagiavam todos os alunos. Os treinos ganharam intensidade, marcando o início de uma nova fase na nossa academia. Cobrinha precisava ajustar alguns detalhes no seu jogo, mas eram ajustes pequenos. Uma vez ensinados, ele treinaria incansavelmente, aprimorando ainda mais as técnicas. Esse processo trouxe um novo método de treinamento para a nossa escola, com a introdução dos drills influenciados pelo Cobrinha. A perfeição nos movimentos e o comprometimento excepcional com o treinamento começaram a fazer a diferença, e as competições se tornaram uma vitrine do que já sabíamos que aconteceria. O nível geral estava aumentando, e a dominação tranquila na categoria pena tornou-se confortável o suficiente para desafiá-lo a competir na categoria absoluta. Com diversos campeonatos e resultados impressionantes para um peso pena, os anos seguintes apenas confirmaram o que eu já havia percebido: tínhamos um dos maiores nomes da história do esporte. Cobrinha possuía todas as qualidades que um professor poderia desejar: extremo talento, dedicação inabalável, lealdade, coragem e incansável determinação.

Cobrinha ingressou na academia com a declaração de que estava ali por conta própria, sem falar em nome de ninguém ou representar um grupo específico. No entanto, sua chegada abriu portas para outros atletas que posteriormente integrariam nossa equipe na busca pelo título mundial no ano seguinte. Embora Cobrinha tenha conquistado o mundial de 2007, a Alliance ficou em segundo lugar. Estávamos novamente na corrida pelo título e nos aproximando da GB. O time cresceu, retomamos o título, e essa será a história que compartilharei com vocês na próxima semana.

 

CAPÍTULO #17

O campeonato mundial havia se mudado para a California, o Jiu Jitsu dava um passo importante para sua internacionalização, a Alliance já vinha fazendo esse movimento há algum tempo desde o inicio de nossa expansão para outros países através de seminários e depois com a mudança do Jacaré para montar nosso headquarters em Atlanta, mas a ida do principal campeonato para os EUA com certeza seria uma mudança muito grande.

Lembro da aventura que foi quando a CBJJ (não existia IBJJF ainda) realizou o primeiro Pan Americano em Orlando, ninguém colocou muita fé que aquilo daria certo pois não existia jiu jitsu nos EUA ainda, pelo menos não suficiente para fazer um grande campeonato, os competidores que foram saíram do Brasil e nós da Alliance não participamos. Acompanhamos a cada ano o crescimento e estivemos juntos já no pan de 1996 e depois disso em todos os campeonatos oficiais estivemos presentes.

2007 como contei no capitulo passado não fomos campeões, mas apresentamos um time muito forte e alguns nomes que ficariam pra sempre na história de nossa equipe.

Cobrinha foi campeão, mas um outro atleta foi a revelação da faixa preta, Lucas Lepri que havia chegado através de seu professor Elan Santiago e junto com um grupo de Uberlândia tinha feito seu primeiro camp conosco em São Paulo venceu a categoria leve de forma incontestável.

Nessa fase nossa equipe realmente cresceu, chegaram Serginho e a turma da Cohab Itaquera, Cobrinha trouxe seus alunos Michael e Michel Langhi, e a turma não parava de crescer, o campeonato de 2008 prometia, sentia que tinhamos um time competitivo, embora ainda muito novo.

A pirâmide já não era tão estranha, mas muitos atletas de nossa equipe estavam indo pela primeira vez para os EUA e isso era um fator preocupante, muita distração enquanto nós precisávamos de toda a energia e foco para voltarmos a ser campeões.

O grande sinal que estávamos próximos do retorno ao topo do pódio foi a vitória no Pan Americano de 2008, vencemos o campeonato poucos meses antes do mundial e a equipe se uniu de uma maneira que não tínhamos há muito tempo, os treinos eram vibrantes e duríssimos, novos atletas começaram a chegar e nossa academia em São Paulo foi se tornando o lugar de desejo de qualquer atleta de jiu jitsu.

Jacaré fazia um trabalho sólido em Atlanta de onde já despontavam atletas de muita qualidade como Chris Moriarty, Ian MacPerson e tantos outros.

Nosso time de colorida também foi reforçado com a chegada de Leo Nogueira, Gustavo Junqueira entre outros, nossos atletas que já estavam conosco agora tinham um treino de mais qualidade e evoluíram demais, Antonio Peinado, Tarsis, Piuhim, Soluço traziam uma parcela grande dos resultados e nosso time estava pronto.

Fomos para o mundial e quando o campeonato começou percebemos que não eram só nossos atletas de São Paulo que brilhavam, fazíamos campeões de Nova Iorque da Finlândia, de Atlanta a Alliance estava forte, vibrante e nossos atletas entravam no tatame confiantes, os resultados começavam a aparecer, fomos fazendo campeões, vice campeões, terceiros colocados e os pontos iam subindo, fazíamos contas enquanto os dias de campeonato se passavam e as categorias iam terminando, o ultimo dia da faixa preta era o decisivo e tínhamos um time de muita qualidade, nossa equipe deu um show, fizemos 2 campeões na preta e 2 vice campeões.

Cobrinha assegurou seu 3º titulo mundial enquanto a surpresa ficou por conta de Serginho Moraes, que entrou desconhecido pois era a primeira vez que competia nos EUA, no sorteio ele foi escalado para lutar com um dos favoritos na primeira rodada, ninguém menos que Kron Gracie, o filho de Rickson fazia sua estreia na faixa preta mas vinha de uma avassaladora performance nas faixas coloridas, um índice de finalização absurdo e nenhuma derrota, Serginho fez uma luta perfeita, abriu um amplo placar e finalizou com um estrangulamento pelas costas, o ginásio ficou atônito mas esse não seria o único feito de nosso atleta aquele dia, ele finalizaria outros grande nomes no caminho para o titulo, Serginho era nosso segundo campeão na preta e assegurava nosso titulo por equipes depois de 9 anos de espera, ficamos ainda em segundo lugar no juvenil e terceiro no feminino, a Alliance estava de volta, e seria muito difícil nos tirar de lá por um bom tempo, mas isso é assunto para o nosso próximo papo, vejo vocês semana que vem.

 

CAPÍTULO #18

Nós éramos novamente campeões mundiais e isso atraía mais gente para reforçar nossa equipe. Eu estava 100% dedicado ao time de competição, viajava para todos os campeonatos e liderava pessoalmente os treinos diários ao meio dia. No entanto, isso não podia me afastar das minhas aulas particulares, nem retroceder na evolução da metodologia que já havíamos percebido que seria, ao longo do tempo, nosso diferencial.

Minha rotina começava cedo. Às 7h, eu já estava dando minha primeira aula particular. Depois, a cada 45 minutos, tinha um novo aluno: 7:00, 7:45, 8:30, 9:15, 10:00, 10:45 e 11:30. Eram seis aulas antes do nosso treino de equipe, que agora contava com os reforços de Leo Nogueira, Bernardo Faria e Bruno Malfacine, além de todos os outros já mencionados nesta história. Os treinos ganharam outro nível técnico e de competitividade, com muitos atletas talentosos no mesmo lugar.

Com minha dedicação ao time de competição, pude perceber que uma pressão estava se formando. Havia muitos campeões, todos querendo viver do jiu-jitsu. Eu já havia vivido esse tipo de situação e tinha a obrigação de ter aprendido algo. Precisávamos ser uma plataforma de oportunidades, e o sucesso do time ajudava muito.

Treinar com aquela turma me mantinha em forma e, principalmente, me aproximava dos meus atletas. Eu sentia o quanto eles trabalhavam duro e procurava me dedicar ao máximo para corresponder a essa confiança.

Embora parecesse que os treinos não podiam melhorar, quando o Mundial chegou, voamos para Atlanta. Todos os competidores finalizaram seu treinamento em um camp, onde estaríamos altamente focados e sob o comando do mestre Jacaré. Além de liderar os treinos, o mestre Jacaré tinha uma equipe muito forte que nos ajudaria a conquistar nosso quarto título e o segundo consecutivo.

Chegamos a seis finais em dez possíveis na faixa preta. Os faixas coloridas também deram um show, e vencemos nosso quarto título mundial com ampla vantagem sobre o segundo colocado. Nossa equipe apresentou um jiu-jitsu impressionante e dominante. A Alliance havia voltado ao topo do mundo com força!

Malfacine estreou na equipe com ouro, Cobrinha confirmou seu favoritismo e se sagrou tricampeão. Michael Langhi venceu seu primeiro mundial na faixa preta, protagonizando uma das cenas mais memoráveis do Mundial. Na comemoração da sua luta final contra Gilbert Burns, o Durinho, que havia vencido Lucas nas quartas de final e feito uma comemoração que considerávamos desrespeitosa ao simular cortar seu adversário com uma espada, ao final da luta, Serginho, que fecharia a categoria médio com Marcelinho, entrou no tatame imitando os gestos feitos por Durinho com a espada. Michael imediatamente fingiu sacar uma espingarda e atirar em seu agressor. Serginho caiu para trás fingindo estar morto, e a galera foi à loucura na arquibancada. Tarsis ficou com a prata, e Gabriel Vella, que havia entrado na equipe um ano antes, também venceu na categoria Pesadíssimo.

O ano de 2009 também nos abriu os olhos para a importância de outros campeonatos, como o Europeu, o Pan-Americano e o Brasileiro. Criamos um novo desafio: vencer todos os campeonatos do que chamamos de Grand Slam em um mesmo ano. No Europeu, ficamos em segundo no masculino, mas vencemos no feminino, no juvenil, no masters e no iniciantes. Por pouco não dominamos todas as divisões. Esse novo objetivo nos deixava insatisfeitos e nos fazia trabalhar mais. Ficamos em terceiro no Pan, mas vencemos o Brasileiro. Estávamos definitivamente de volta à disputa e parecíamos muito mais fortes e motivados do que nossos adversários. Era apenas uma questão de tempo.

Nossos atletas, após a temporada de campeonatos, precisavam de algo que os motivasse. Eu entendi que era hora de diminuir minhas viagens internacionais para poder me dedicar ainda mais à academia e, ao mesmo tempo, criar uma oportunidade de ganho e uma experiência internacional para os atletas.

Cobrinha se mudou para Atlanta, onde ficou sob a supervisão do mestre Jacaré e ajudou ainda mais a continuidade de nossa equipe lá. Lucas já estava em Nova York, onde substituiu Marcelinho. Michael, Bernardo e Malfacine viajavam por meses para a Europa para cumprir a agenda de seminários, ganhando experiência internacional e dinheiro para financiar todo o ano de treinamento. O sistema estava funcionando, e o time seguia se fortalecendo. Eu havia encontrado um modelo que me parecia sustentável, mas não sabia por quanto tempo.

2010 nos reservaria algumas surpresas. Nos vemos na próxima semana!

 

CAPÍTULO #19

Ano de  2010

Nossa equipe se consolidava como a maior potencia do momento vencendo diversos campeonatos e os últimos mundiais, nosso time era jovem estava motivado e era muito talentoso.
Eu seguia meu ritmo de aulas particulares e me dedicava muito ao time de competição não apenas nos treinos mas também nas viagens para todos os campeonatos oficiais.

Os resultados eram cada vez melhores, e resolvi lançar um desafio para o time, alguns atletas e alunos ja tinham tatuagem com a águia da Alliance mas eu nunca tive uma tatuagem e ja com 40 anos a chance de eu fazer uma era muito pequena, mas prometi ao time que se ganhássemos o grand slam Europeu, Pan Americano, Brasileiro e Mundial eu faria uma grande e na costela que segundo os entendidos era o pior lugar, o mais dolorido.

Os garotos me puxavam nos treinos e eu estava me sentindo muito envolvido, havia muito tempo que eu não competia em alto nível e ja tinha 40 anos mas decidi que lutaria o Europeu, me inscrevi na categoria pesado faixa preta adulto, consegui vencer minhas duas lutas ate a final e encontrei o que era provável, meu aluno e super campeão Bernardo Faria que gentilmente me cedeu a vitoria permitindo que eu me tornasse campeão e talvez o mais velho campeão de um torneio do grand slam na faixa preta aos 40 anos.

Nossa equipe venceu o europeu! Vencemos também o Pan, no Brasileiro daquele ano acabamos o dia de azul e roxa mais de 50 pontos atras da Nova Uniao, seria uma missão difícil para os marrons e pretas, foi dessa época que começamos a chamar essa geração de os cavaleiros de ouro, não só ganhamos o campeonato como ainda colocamos uma boa vantagem, foi incrível e só faltava o mundial.

Fizemos um ótimo campeonato bem equilibrado em todas as faixas e a disputa ainda estava acirrada até a faixa preta, quando mais uma vez batemos recorde, colocamos 6 atletas na final do masculino faixa preta feito nunca antes alcançado e recorde que permanece até hoje.

As finais aconteceriam algumas horas depois, estavam marcadas para as 16:30, quando começaram a anunciar a primeira luta era entre Romulo Barral e Tarsis um revanche do ano anterior, Tarsis estava fazendo um campeonato primoroso mas não apareceu na hora da final, ele havia saído para comer e se confundiu no horário, a organização me pressionava e eu tentava localiza-lo, eu não podia acreditar que um atleta classificado para a final levaria um WxO e isso estava perto de acontecer, quando finalmente ele chegou correndo, desceu as escadas esbaforido, olhei aquilo e pensei, se ele lutar assim não tem a menor condição de vencer, fui em sua direção e pude ver na cara dele a certeza que levaria um esporro por estar atrasado, mas ao contrário, falei bem calmo para ele desacelerar e não cair na pilha da federação, para ir com calma para o vestiário se trocar, e que so viesse de la quando estivesse concentrado para lutar, foi o que ele fez, voltou para fazer a luta da vida e se tornar campeão mundial.
Venceram ainda Malfacine,Michael, Marcelinho, Vella e Bernardo, Cobrinha foi vice depois de 4 títulos consecutivos. Gabi e Luana comandaram o time feminino e vencemos o feminino também.

Voltei de viagem e liguei para meu amigo Serginho da Tatooyou e fui pagar minha aposta a Alliance era a única equipe a vencer todos os campeonatos do Gland Slam no mesmo ano, feito inédito e jamais alcançado por nenhuma outra equipe. Escolhi como prometido fazer uma águia grande na costela.

Ainda em clima de comemoração dos títulos do ano recebi a noticia de que a academia onde nossa equipe treinava em Sao Paulo seria vendida, tínhamos um bom acordo com os ex proprietários e tinha certeza que seria impossível manter algo parecido com o novo comprador, que era a rede de academias Body tech e que trabalha em um modelo bastante diferente, embora tenham tentado me tranquilizar entendi que eu precisava me mexer rápido, e comecei a procurar um outro imóvel, a academia ja estava pequena mas quando as coisas estão funcionando somos tentados a permanecer na zone de conforto, agora eu precisava sair e rápido.

Consegui achar um imóvel indicado por um amigo, parecia muito grande e muito caro, eu tinha na época em torno de 250 alunos , precisaria fazer uma reforma grande no imóvel e ai da tentar negociar o aluguel. Decidi que precisava dar esse passo a Alliance merecia uma sede própria para servir de modelo, ja éramos o melhor time er hora de nos transformarmos na melhor academia tambem.
Inauguramos a nova sede da Alliance Sao Paulo em Dezembro de 2010, que ano!!!

 

CAPÍTULO #20

Ano 2011 

O ano de 2011 seria um ano muito importante para a Alliance, fora todo o volume de campeonatos e resultados que seguíamos coletando incluindo outro Grand Slam completo com Europeu, Panamericano, brasileiro e Mundial, começávamos a entender a necessidade de nos organizar não só como equipe, mas também como empresa.

Convidei um aluno faixa marrom na época para me ajudar a organizar minhas filiais, seminários pagamentos de royalties e organização de cursos da metodologia assim como organizar nossa relação como equipe junta a IBJJF, o escolhido para essa função foi Ricardo Caloi de quem ainda falaremos bastante dentro de nossa história.

Começamos a trabalhar juntos em meu escritório recém montado na nova sede da Alliance São Paulo, eu começava a diminuir minhas aulas particulares e a colocar mais energia na organização da equipe como um todo, começamos juntos a conversar com Jacaré e Gigi para alinharmos a forma de trabalhar para que um dia pudéssemos ter apenas uma regra em prática na Alliance, esse movimento era difícil, e o Ricardo foi uma peça fundamental para criar uma confiança em todos os envolvidos, fundadores e filiados que estávamos ali para construir algo benéfico para todos.

Tínhamos muito a trabalhar pela frente e embora fossemos hexa campeões mundiais nossa estrutura era extremamente amadora, precisávamos padronizar tudo e não sabíamos por onde começar, tudo parecia muito distante e difícil, para não dizer pouco provável, focamos no que tínhamos de melhor, a metodologia, começamos a organizar os cursos presenciais e entregar os DVDs para que os professores pudessem estudar em casa, criamos materiais auxiliares, desenvolvemos o site e fomos melhorando embora ainda com muita resistência dos filiados que não enxergavam a importância de mexer em time que estava ganhando, mas eu tinha total coincidência de que isso era extremamente necessário.

Melhoramos também o intercambio de seminários para nossos atletas, isso era fundamental para que eles permanecessem em São Paulo e focados durante toda a temporada, após o mundial a turma debandava para Europa e EUA onde ficavam por 2 meses trabalhando, aprendendo inglês, vivendo outras culturas e nos ajudando a replicar nossa cultura.

Abaixo coloco uma carta que enviamos ao filiados que transmite bem o momento que vivíamos em 2011

 

Prezados amigos da Associação Alliance,

O ano de 2011 foi mais um ano de crescimento e vitórias para nossa equipe. Como muitos já sabem, mais uma vez a Alliance foi campeã Mundial, somando em seu currículo o sexto título mundial conquistado. Além disso, levamos também o campeonato Europeu, o Pan-Americano e o campeonato Brasileiro. Isso nos consagra como a melhor equipe de Jiu Jitsu atualmente no mundo. Queremos agradecer a todos que fizeram parte destas conquistas, direta ou indiretamente, e que contribuem para o crescimento e o desenvolvimento da melhor equipe de Jiu Jitsu do planeta.

Existem ainda muitas áreas em que podemos melhorar, e assim, a Alliance vêm trabalhando duro para criar novos programas e produtos para lhes oferecer no próximo ano, visando a organização e a profissionalização de nossa associação. Para citar nosso cofundador, Fabio Gurgel:

“Chegar ao topo é fácil, a parte difícil é permanecer lá”.

Para manter o nosso lugar de melhores do mundo tentaremos fortalecer a solidariedade dentro das escolas espalhadas pelo mundo. Para continuarmos bem-sucedidos, vemos a necessidade de escolas melhor organizadas que possam passar os nossos métodos de ensino aos alunos. Da Califórnia ao Bahrein, passando pelo Brasil, nossa missão é ensinar o mesmo padrão de Jiu Jitsu para todas as escolas. Atualmente, nosso time é separado em três grandes grupos: Fabio Gurgel, Romero Jacaré e Alexandre Paiva. Cada um possui suas próprias associações Alliance com algumas diferenças em seus sistemas de suporte, padrões e requerimentos. A partir de janeiro de 2012 nós vamos fundir as escolas em uma única organização. Este será um passo necessário e imprescindível para solidificar o trabalho iniciado por Mestre Jacaré anos atrás no Rio de Janeiro. Abaixo uma figura que mostra a transformação que terá início em janeiro de 2012:

 

imagem capitulo 20

imagem capitulo 20

 

 

Tendo isso dito, em 2012 nós iremos oferecer muitos produtos que irão ajudar as nossas escolas franqueadas a crescer. Pretendemos enviar nossos Faixas Pretas Campeões Mundiais para passar uma semana inteira ensinando e compartilhando conhecimento em cada escola franqueada. Nós adotamos este intercâmbio na Finlândia por exemplo, onde os donos das escolas mais que duplicaram seus investimentos neste programa mesmo com cinco escolas condensadas em uma mesma área. As escolas apoiam umas às outras viajando para àquela escola que está recepcionando o seminário. Fazendo isso, as escolas crescem mais fortes, coletividade beneficia o financeiro, e reforça a camaradagem.

Nós vamos estar oferecendo mundialmente uma linha padrão de mercadorias que estará cotada de tal maneira em que os donos das escolas poderão colocar seus mark-ups em até 100% confortavelmente. Kimono de alta qualidade, patchs, bermudas, lycras e outros produtos estarão disponíveis. Estaremos oferecendo também diferentes cursos de professores que te darão a oportunidade de atrair diferentes tipos demográficos. Temos a intenção de aumentar e diversificar sua base de alunos. Cursos de defesa pessoal para professores, aulas para crianças, módulo I e módulo II do currículo adulto, serão todos oferecidos em 2012.

Estaremos ainda, informando-os sobre as novidades e as mudanças que irão ocorrer em nossa organização. Juntamente com esta carta estamos enviando uma ficha cadastral para um maior controle, pedimos para que cada filiado preencha a sua e nos retornem o arquivo eletronicamente ou por correio.

Para encerrar, sabemos que você compartilha a nossa visão de sucesso e crescimento para o futuro. Sabemos também que muitos de vocês encontrarão dificuldades ao implementar os nossos programas. Isso é esperado e prometemos suporte total naquilo que acreditamos. Por favor, implementem os nossos produtos e programas, e nos deem um feedback para que possamos melhor ajudá-lo com seu sucesso.

 Desejamos a todos um feliz natal e um próspero ano novo.

 

Não conseguimos fazer tudo que planejamos em 2012, mas avançamos bastante sem duvida e amadurecemos a ideia de unificação das redes de academias lideradas pelos fundadores, criando uma só regra para todos.

Os desafios nunca terminam, mas esse ano sem duvida foi um divisor de águas na forma como a Alliance se posicionava, não mas apenas como uma equipe de competição mas tentando se transformar em uma empresa.

 

 

CAPÍTULO #21

Mundial de 2012 | Uma derrota difícil de digerir

Chegamos a mais um campeonato mundial como favoritos, nosso time estava muito forte, completo e melhor distribuído.

Esse ano igualaríamos a marca de 7 títulos mundiais de Gracie Barra caso vencêssemos, sempre convivemos com a possibilidade de perder, eu nunca cheguei a um campeonato com a certeza que venceríamos, tinha sim bastante confiança no time mas sempre dependíamos de cada individuo de fato ganhar sua categoria para somar os pontos necessários para a equipe vencer. Estávamos sempre contando os pontos e analisando as categorias restantes para vermos as possibilidades, isso acontece até hoje.

2012 foi o ano de nossos atletas pesados brilharem e puxarem o time, Bernardo Faria e Leonardo Nogueira seriam os destaques de nossa equipe durante toda a temporada, Bernardo venceria Europeu e Pan Americano Leo ficaria com o titulo Brasileiro e chegaríamos ao mundial com a certeza de te-los na melhor fase, perderíamos a hegemonia do peso leve, Michael Langhi e Lucas Lepri, talvez a melhor dupla da história em qualquer peso, seria derrotada pelo fenômeno Leandro Lo.

Nossa previsão aconteceu e Bernardo e Leo fecharam a categoria super pesado para a Alliance, não houve luta como era praxe entre os atletas que treinavam juntos, Leo ficou com o titulo, eles tinham um acordo, dividiram tantos títulos e era a vez do Leo ficar com o ouro.

Eles eram também nossa dupla para o absoluto e tinhamos ótimas chances, chegamos com os dois nas semi finais, de um lado Bernardo x Buchecha e do outro Cara de Sapato x Leo, era um confronto direto com a checkmat e com dois grande atletas, Bernardo e Buchecha foi uma guerra mas Bernardo estava melhor na luta, vencendo e por cima com sua passagem de guarda “over under” encaixada, Buchecha fez uma pegada ilegal dentro da boca da calça de Bernardo e criou uma alavanca para fazer uma raspagem, o movimento foi na cara do arbitro Muzio de Angelis que deixou a luta correr, com a raspagem no ultimo minuto de luta não havia mais tempo e bernardo perdeu a semi ficando em terceiro.

Fomos para a outra disputa e começamos perdendo a luta, Cara de Sapato abriu o placar e a luta ficou ruim pra gente até perto dos 5 minutos quando Leo conseguiu cair por cima chegar na meia guarda e passar a guarda e abrir uma ampla margem de pontos, estávamos na final.

Leo Nogueira estava a um passo do double gold no mundial, nossa equipe nunca havia conquistado tal feito. A Luta começou e Leo dominava as ações, fez dois pontos e controlava a luta, fazia guarda e Buchecha caiu preso em uma 50/50 a menos de um minuto do fim da luta, não tinha como desfazer aquela posição e ainda pontuar a tempo, o titulo estava em nossas mãos. Mas o Buchecha não é o maior campeão da história dos mundiais a toa, ele forçou a luta para fora do tatame o que obrigou os lutadores a voltar a luta em pé no centro do ringue, faltavam 12 segundos, não dava tempo pra nada, as torcidas estavam em polvorosa e o arbitro permitiu que os lutadores ficassem muito próximos, quando ele deu o sinal Buchecha entrou na única queda que daria tempo, uma baiana ou double leg, Leo não conseguiu defender e para não ceder os pontos tentou levantar de qualquer jeito, Buchecha fez os 2 pontos que precisava e ainda mais uma vantagem por quase montar, foi tudo muito rápido e inacreditável, mas a vitória escorreu de nossas mãos, foi uma das derrotas mais difíceis de aceitar que já vivenciei como técnico, Leo sempre foi um competidor extremamente técnico e estratégico, aquilo que acabara de acontecer com ele foi devastador, se foi pra mim imagina para ele que havia acabado de perder o titulo mais importante da carreira, sentimos juntos mas minutos depois estavamos celebrando o titulo mundial dele na categoria e mais um titulo para nossa equipe, o sétimo e quinto consecutivo.

 

 

CAPÍTULO #22

De volta a nossa história em 30 capítulos após uma necessária pausa para cuidar de assuntos urgentes, me desculpo com quem estava acompanhando a sequencia mas agora vamos aos 8 últimos capítulos onde tanta coisa aconteceu.

O ano era de 2012, e nosso escritório era comandado de dentro da Alliance SP, eu e Ricardo Caloi alinhavamos as regras que todas as academias precisariam seguir, a tentativa de ajudar o Jacaré e o Gigi a gerirem suas filiais nos mesmos modelos foi aos poucos nos mostrando que esse era o caminho, mas enfrentávamos muita resistência dos filiados que estavam acostumados a um modelo com muito menos ou quase nenhum compromisso, isso iria mudar bastante ao longo dos próximos anos mas o ano de 2012 foi com certeza o inicio desse movimento.

Em São Paulo a academia seguia crescendo muito, e a equipe de competição vivia o seu auge, era impensável imaginar tantos campeões ao mesmo tempo treinando sob o mesmo teto, todos focados em um só objetivo, ser campeão mundial e poder viver de jiu jitsu.

Um caminho que eu havia percorrido e que funcionou para mim era conciliar minhas aulas, com treinos e também com viagens internacionais para seminários, entendi que precisava começar a sair dessa rotina e colocar os atletas para trilharem o mesmo caminho, os filiados reclamaram no inicio mas chegamos a um acordo que os atletas ficariam 15 dias ao invés de uma semana como eu costumava ficar, isso quebrou a objeção e todos ficarem satisfeitos, os atletas faziam temporadas de até 2 meses na Europa e conseguiam juntar um bom dinheiro que financiaria todo o restante do ano de treinamento, os filiados tinham a chance de treinar e aprender com os atuais campeões por 15 dias e eu conseguiria colocar a minha energia em cuidar da minha academia e alunos, essa época eu ainda dava de 10 a 12 aulas por dia, e ainda cuidar da associação organizando as regras e pensando no futuro de nosso time.

A temporada de campeonatos de 2012 começou como sempre pelo Europeu um Lisboa, não fomos bem e perdemos, recuperamos no Pan americano vencendo mas voltamos a ficar em segundo no Brasileiro, porém quando chegava a hora do mundial e íamos com nosso time completo estávamos simplesmente em outro nível, nossa equipe era completa e consistente e vencemos mais um ano chegando a incrível marca de 5 títulos consecutivos na categoria adulto masculino, vencemos também mais uma vez o feminino também com ampla vantagem de pontos.

Porém tinha uma coisa que não conquistávamos a muito tempo e que era um desejo de todos nós, o principal titulo do esporte, o de campeão absoluto na faixa preta adulto masculino, e esse ano estávamos na final com nosso campeão Leo Nogueira que havia fechado a categoria com Bernardo Faria e estava na final contra o Marcus Buchecha, sabíamos que a luta seria dura mas não tínhamos ideia do que o destino nos reservava, Leo dominou a luta inteira, abriu o placar em pontos e depois aumentou em vantagens, ao final da luta faltando menos de 30 segundos para terminar o titulo estava em nossas mãos, Leo era um dos atletas mais experientes de nossa equipe e um lutador inteligente que jogava muito bem com as regras, mas nesse dia uma sucessão de pequenos erros nos custaria um alto preço, Buchecha estava preso em uma 50/50 faltando menos de 30 segundos e simplesmente saiu rolando para fora, o juiz deu ordem para parar a luta e o cronometro e voltou a luta em pé, estávamos 2 pontos e uma vantagem a frente não havia tempo para nada, o cronometro marcava 20 segundos, Leo ficou de frente porem muito perto, Buchecha sentiu o momento e entrou em uma double leg fulminante, poderíamos tomar a queda mas o Leo tentou evitar a todo custo, tomou uma vantagem, mas a luta pela queda continuou, Buchecha consolidou a queda caindo direto na montada, Leo defendeu mas o arbitro computou outra vantagem para nosso adversário e não havia mais tempo para nada, perdemos o titulo absoluto e talvez a luta mais na mão que nossos atletas já tiveram, foi inacreditável e muito doida aquela derrota, mas éramos campeões, imagina para o Leo, a dor que não deve ter sido, isso em nada diminui sua história em nossa equipe e seus inúmeros feitos pelo nosso time, mas que doeu em todos nós isso doeu!