Eu talvez tenha sido um dos professores que mais erraram no jiu jitsu desde que comecei a dar aulas aos 15 anos de idade, já errei em não entregar uma boa aula ao meu aluno por não entender o que ele precisava, já errei ao exagerar no aquecimento e exaurir meus alunos antes mesmo do treino começar, já errei em querer que as coisas fossem sempre do meu jeito (afinal eu era o professor) entre tantos outros, porém talvez o meu maior erro e que deve ter me custado centenas de alunos foi o corredor polonês.
Tudo começou como uma brincadeira em minha academia no Clube Federal onde comecei a dar aulas sozinho em 1988, (na academia de meu mestre não havia esse costume), logo não sei bem da onde eu tirei essa terrível idéia mas o fato é que a usei por muito tempo e ela se espalhou pelo jiu jitsu em uma velocidade assustadora, possivelmente outros professores como eu começaram por si próprios e talvez outros tantos eu de alguma forma tenha influenciado, a esses eu peço minhas sinceras desculpas, porém o fato é que esse ritual se tornou parte do ambiente das academias de jiu jitsu os alunos suportavam aquilo e até gostavam pois parecia um teste como aqueles que vemos em filmes de guerra onde os quartéis militares preparam seus soldados para enfrentar as dificuldades que estão por vir, os alunos se sentiam merecedores daquela nova faixa por terem suportado aquele espancamento que no fundo não tinha nenhum propósito.
O tempo passou e as academias de jiu-jítsu voltadas cada vez mais para a competição e priorizando sempre a participação de alunos casca-grossas não sentia nenhuma necessidade de mudar a festa de graduação afinal ser casca grossa era uma quase obrigação, e o que era um simples corredor para um cara acostumado a sofrer no treino de jiu jitsu para competição?
Um belo dia tive uma experiência que me fez repensar tudo a esse respeito, eu já vinha estudando e cada dia mais entendendo que estávamos nos afastando do que o jiu jitsu precisava em termos de oferecer o jiu jitsu para todos e não só apenas para a turma de competição, porém em uma festa de graduação tivemos a presença da mãe de um aluno que iria se graduar naquele dia, ela estava a principio toda orgulhosa provavelmente esperando uma glamurosa cerimônia (alias como deveria ser) quando de repente o “corredor” foi formado, gritos de Uh vai morrer eram entoados por todos os quase 100 alunos que estavam no tatame, e lá foi o garoto passar por aquela insanidade, a mãe ficou apavorada e disse ao pai que deveriam denunciar aquilo em uma delegacia! O pai estava dividido entre o orgulho de ver o filho vencer aquela situação e conquistar a tão sonhada faixa e o de acalmar a mãe, o filho foi graduado e sua felicidade fez com que a mãe desistisse de prestar queixa e aceitasse apenas parabenizar o filho, porém aquilo para mim foi a gota d’água e a comprovação de que algo muito errado estava acontecendo e que era preciso mudar.
Nunca mais permiti que houvesse isso em minha academia, pelo contrário agora o teste não é de resistência mas sim de técnica, os exames de faixa tomaram o lugar do corredor polonês e o resultado é indiscutivelmente melhor, meus alunos são submetidos a um teste justo e que os confronta com o que realmente interessa se minha escola esta conseguindo ensina-los um bom jiu-jítsu.
Essa mudança não aconteceu de forma isolada e por isso não posso atribuir o crescimento de minha academia somente a ela, já contei para vocês algumas mudanças que implementei em minha escola e que todas juntas produzem o resultado que tenho hoje mas uma certeza eu tenho, o Corredor Polonês deveria ser abolido de todas as escolas de jiu jitsu do mundo.
E a sua academia como funciona?
um forte abraço e até a próxima.
Fabio Gurgel