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Roger Scruton e o Jiu-Jitsu: Tradição Viva

Roger Scruton e o Jiu-Jitsu: Tradição Viva

Roger Scruton foi um dos maiores filósofos conservadores do século XX.
Britânico, escritor prolífico, pensador refinado — dedicou sua vida a defender a beleza, a ordem, a moral e a tradição como pilares da civilização.
Mas, diferente do que muitos pensam, Scruton não era contra o novo.
Ele apenas acreditava que nem tudo precisa ser reinventado — especialmente aquilo que já provou seu valor.

O Jiu-Jitsu vive hoje uma tensão clara entre tradição e modernidade.

De um lado, a velha guarda. Lutadores que dedicaram a vida ao tatame quando não havia mercado, estrutura ou retorno financeiro. Gente movida por paixão, mas que muitas vezes ficou pelo caminho, incapaz de transformar essa paixão em prosperidade.

Do outro, a nova geração. Atletas altamente técnicos, moldados por regras de competição específicas, que dominam berimbolos e lapelas mas, por vezes, não sabem se defender de um soco.
Perderam o vínculo com o propósito marcial da arte.

Ambos têm razão — e ambos se equivocam.
O Jiu-Jitsu não era melhor antes, apenas era mais bruto e menos acessível.
Mas o Jiu-Jitsu de hoje também não é completo, se ignora a defesa pessoal, o respeito e a filosofia que formaram suas raízes.

Eu sempre entendi que, se quisesse viver do Jiu-Jitsu, precisaria fazer mais do que lutar.

Transformei a paixão em negócio.
Criei escolas sustentáveis.
Liderei o time mais vencedor da história.
E nunca desviei da minha missão: entregar um Jiu-Jitsu eficiente, acessível e formador de caráter.

Scruton dizia:

“A tradição não é a adoração das cinzas, mas a preservação do fogo.”

E esse fogo, no nosso caso, é o espírito do Jiu-Jitsu.
A luta justa.
O respeito pelo oponente.
A humildade de quem sabe que, um dia, também será finalizado.

No tatame, a beleza não está só em vencer — mas em vencer sem trair os valores que nos trouxeram até aqui.

O Jiu-Jitsu não precisa escolher entre tradição e inovação.
Ele precisa de líderes que saibam unir as duas coisas com responsabilidade.
Porque no fim, como dizia Scruton,

“Tudo aquilo que vale a pena ser transmitido… já foi conquistado com muito esforço.”

E a nossa missão é seguir transmitindo — com técnica, com paixão, e com honra.


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Respostas de 20

  1. Mestre como é satisfatório ler e viver suas reflexões, sobre o nosso esporte, quanta sabedoria, obrigado por moldar minha mente no esporte Oss.

  2. “Perderam o vínculo com o propósito marcial da arte”…muito bom ponto. Conheci tarde o jiujitsu, vejo o quanto transforma o estilo de vida da gente e molda comportamentos. E é uma arte viva… vai continuar evoluindo, só o que está morto não muda…
    Mas realmente foco no pontuar sem saber se defender de a agressão é no mínimo digno de uma boa discussão de especialistas e textos como esse seu. Trata-se de uma ferramenta de vida muito transformadora para ser limitada apenas ao treino para pontuar. Valeu !

  3. OJiu-Jítsu faz a ponte entre as gerações, forte nas raízes e aberto ao novo, evoluindo sempre.

  4. É incrível não somente a forma como a reflexão sobre passado, presente e futuro do JiuJitsu é tão bem caracterizada, como também para a vida e o “conflito”atual da convivência entre as gerações.
    Parabéns mais uma vez Mestre.

  5. Excelente texto mestre!
    Mestre porque o ensinamento nunca fica somente no tatame, mais se estende além dele na vida pelos valores que você transmite e pela busca pelo conhecimento que é nítida por todos que te acompanham.

  6. Clareza, propósito e verdade — é disso que o Jiu-Jitsu precisa, e é isso que você entrega com maestria aqui.
    Estou prestes a abrir uma escola e, depois de ler isso, me sinto ainda mais certo do caminho.
    Obrigado por manter o fogo aceso e inspirar quem está começando a jornada com responsabilidade e paixão.

  7. Saibais palavras e um texto extremante delicado onde mostra valores diferentes..

    parabéns mestrão pelo trabalho..

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