“Com todo respeito, mas este espaço não é meu. Ele pertence ao Jacaré, ao Rickson, ao Gigi… Talvez o Demian, o Jocko e até mesmo o Mark Kerr. Daí pra cima.”
Foi assim que em primeiro momento recusei o convite para estar aqui, me dirigindo a você.
A resposta que recebi foi reta:
“Discordo! Esses são personagens importantes, porém óbvios. Acho que a sua visão de fora – e posteriormente de dentro – passa uma mensagem muito mais em linha com o que pretendo atingir com o meu livro.”
Mas qual é a pretensão do livro?
O que ele pretende atingir?
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Estava em uma situação extremamente desconfortável.
Eu era um dos espectadores de um curso sobre gestão para academias de jiu jitsu, que acontecia num hotel em São Paulo. Estava abrindo uma academia de jiu jitsu na mesma região que ficava a matriz da Alliance Jiu Jitsu, no bairro da Vila Olímpia, na capital paulista.
Embora praticante e apaixonado pela arte marcial, eu não era um atleta, não era um lutador profissional e tampouco um professor. Minha função ali era basicamente a de investidor; estava viabilizando o que era um sonho do meu professor à época.
Como era o meu primeiro investimento no ramo, fui lá para entender onde estava me metendo. De quebra, iria conhecer alguns segredos daquele que, em breve, seria o meu concorrente na região: Fabio Gurgel, o anfitrião do evento.
Como todo praticante, eu conhecia as histórias do “general” da Alliance; o tetracampeão mundial na faixa preta, o casca-grossa que esteve na linha de frente dos antigos desafios do jiu jitsu contra outras artes marciais, esses fundamentais para consolidar a marca da “luta mais eficiente do mundo”, o lutador dos primórdios do vale-tudo sem luvas, depois do UFC e, principalmente, o líder da maior e mais vencedora equipe de competidores de jiu jitsu do mundo.
Cheguei ao hotel nutrindo profunda curiosidade por aquele personagem. Sai admirando um gestor.
O curso foi incrível, com diversas sacadas que eu poderia aplicar não só na minha academia, mas também na minha vida pessoal e no meu negócio principal, no mercado financeiro.
Ao final das quase três horas de evento, fui cumprimentar brevemente o professor:
“Parabéns, Fabio. Isso que você mostrou aqui precisa chegar a um número muito maior de pessoas – e eu acho que posso te ajudar com isso. Fica com o meu cartão. Caso você tenha interesse, podemos tomar um café no meu escritório para discutirmos a respeito.”
Fabio recebeu os cumprimentos cordialmente. Àquela altura, ele não fazia a menor ideia de qual era minha real intenção com aquele gesto…
De fato, eu tinha um interesse genuíno em ajudá-lo a promover o produto de gestão de academias, mas eu tinha um problema maior para lidar primeiro. Estava em vias de inaugurar uma academia concorrente a um quarteirão de distância da escola dele, iniciando o que poderia ser uma disputa por espaço e alunos na região – e resolvi que o melhor a se fazer era falar isso pessoalmente para ele.
Como a coisa tinha algum risco de ficar feia, entendi que eu minimizaria um eventual prejuízo se estivéssemos em um ambiente controlado – no caso, o meu escritório.
Quando ele chegou ao escritório, na avenida Faria Lima, nos dirigimos a uma sala de reunião. Escolhi uma sala de vidro, com paredes transparentes, onde as pessoas de fora pudessem nos ver, embora não ouvir, e fui logo tirar o peso das minhas costas:
“Fabio, antes de qualquer coisa, eu preciso ser sincero com você. Estou abrindo uma academia de outra bandeira ali na Vila Olímpia, por isso fui até o seu curso de gestão de academias.”
“Exatamente onde vai ser essa sua academia?” – ele respondeu, de imediato.
Tentei então distanciar ao máximo a localização… Argumentei que não conhecia muito bem as ruas ali do entorno, mas, ao abrirmos o mapa no celular, não consegui brigar contra o fato.
“Poxa, vai ser bem na altura da minha academia. No quarteirão de cima!” – ele concluiu.
Naquele momento, entendi que o pior estava a um passo de acontecer. Meus batimentos cardíacos subiram abruptamente e olhei através do vidro, na esperança de ter gente de prontidão do lado de fora da sala, ao que ele complementou:
“Isso é uma notícia excelente. Fico feliz de saber que terá alguém capacitado por perto. Alguém que poderá oferecer um bom nível de serviço aos alunos.”
Surpreso, o interrompi: “Espera. Deixa eu ver se entendi… Isso não é um problema pra você?”
Ao que ele prontamente respondeu:
“Sabe o que é um problema pra mim? É essa infinidade de academias mal geridas, sujas, com professores que tratam mal os alunos, que se atrasam pra aula, que dão aula com o kimono sujo, que não falam corretamente e que, dessa forma, diminuem o jiu jitsu. Uma vez que vai lá, o aluno tem uma experiência extremamente negativa, a ponto de nunca mais voltar; seja para aquela, seja para qualquer outra academia de jiu jitsu. Fico feliz de verdade de vocês estarem com um bom projeto para a região.”
Foi um choque. Aquela reação ia frontalmente contra todo o histórico do esporte, de invasões a academias rivais, rixas em campeonatos e conflitos entre praticantes de diferentes bandeiras.
A partir daquele momento, percebi que não daria para brigar (comercialmente) na região, mas ganhei um professor, uma referência, posteriormente um sócio em outro projeto e, ainda mais importante, alguém que hoje considero um amigo.
Essa breve passagem é um resumo do que entendo ser o propósito de Fabio Gurgel: mostrar o jiu jitsu para fora do jiu jitsu.
O que você encontrará nas próximas páginas é um homem em uma missão. Uma missão nobre e muito bem-sucedida, com feitos marcantes, eventos surpreendentes e personagens emblemáticos; mas, acima de tudo, você encontrará o homem, um interlocutor que se confunde entre praticante, atleta, lutador, professor, líder, treinador, empresário e eterno estudante – com seus devidos fracassos, dilemas, aprendizados, e sua busca incessante pela virtude.
Tudo está aqui. A relação com o mestre Jacaré, a ascensão como atleta, a fundação da Alliance, as transições na carreira, o racha na equipe, a dor pelo amigo Marcelo Behring, as lesões, os títulos mundiais, os treinamentos com o Carlson, o respeito por Rickson, o embate com Mark Kerr, a luta pela profissionalização do esporte, o desenvolvimento do modelo de negócios e da metodologia de ensino…
O Inabalável tem a pretensão de mostrar que a luta mais eficiente do mundo é, também, uma das ferramentas de desenvolvimento pessoal mais poderosas que existem. E o consegue através de um relato corajoso, apaixonado e, sobretudo, necessário, daquele que até hoje é um dos personagens que melhor entenderam o verdadeiro tamanho da arte suave, para muito além dos tatames.
Descalce os sapatos. Amarre a sua faixa. Dirija-se ao centro do tatame, cumprimente o General e…
Boa leitura!
Roberto Altenhofen
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