Quando falamos em liberdade, muitos ainda a confundem com a simples ausência de regras: a ideia de poder fazer o que se quer, a qualquer momento.
Mas basta imaginar uma avenida movimentada sem semáforos ou sem faixas de pedestres para perceber o resultado: não seria liberdade, seria caos.
E essa confusão não é apenas prática, é também moral. Como saber o que é o correto? Qual regra seguir? Em que baseamos nossas escolhas?
Na nossa cultura, acreditamos que a liberdade só é verdadeira quando está ancorada em virtudes. Como ensinava Aristóteles na Ética a Nicômaco, a vida boa — a Eudaimonia — nasce da prática constante da coragem, da justiça, da temperança e da sabedoria. É uma conquista diária, não um presente que alguém pode simplesmente conceder.
E aqui entra um conceito que aprendi no tatame e que trago para a vida: disciplina é liberdade.
Isso pode soar contraditório, mas não é. Porque, sem disciplina, a liberdade se transforma em escravidão aos nossos próprios impulsos. Ser livre não é fazer o que é conveniente, mas agir pelo que é correto, mesmo quando isso exige esforço.
No Jiu-Jitsu, vivi isso de perto. Para competir no mais alto nível, precisei abrir mão de muitos prazeres imediatos: noites de festa, horas de descanso, escolhas fáceis. O sacrifício não era sofrimento, era um investimento. Era a maneira de construir a condição para ser realmente livre no tatame — livre para me mover, para lutar, para escolher como reagir em cada situação.
Esse mesmo princípio vale para a vida. Quem busca liberdade financeira precisa sacrificar consumos supérfluos. Quem deseja liberdade de expressão precisa aceitar o risco de sustentar suas convicções diante da crítica. A liberdade nunca é de graça: ela sempre cobra disciplina, autocontrole e responsabilidade.
E aqui faço um contraponto importante. No campo econômico, existe o princípio do laissez-faire — a ideia de que o mercado prospera quando o Estado interfere o mínimo possível.
Mas o laissez-faire só funciona quando os indivíduos sabem se governar.
Se não houver virtude, se não houver autocontenção, o “deixar fazer” pode se transformar em “deixar destruir”. Não existe sociedade forte com indivíduos fracos. O progresso coletivo depende do sacrifício e da disciplina de cada um.
Epicteto, o filósofo estoico, dizia: “Nenhum homem é livre até que saiba dominar a si mesmo.” Essa frase resume a essência do que aprendi no Jiu-Jitsu e que levo para a vida e para os negócios.
A liberdade verdadeira não é apenas política ou econômica — é, acima de tudo, a conquista de uma vida virtuosa. Esse é o caminho para a Eudaimonia, o auge da liberdade humana: ser dono de si mesmo para, a partir daí, ajudar a construir uma sociedade mais justa, forte e livre.