C.S. Lewis e o Jiu-Jitsu: A Luta Contra o Orgulho

C.S. Lewis e o Jiu-Jitsu: A Luta Contra o Orgulho

Por Fabio Gurgel

C.S. Lewis foi um escritor, professor e pensador britânico do século XX, conhecido tanto por suas obras de ficção — como As Crônicas de Nárnia — quanto por seus escritos filosóficos e espirituais. Ao longo da vida, ele se dedicou a discutir temas como fé, moralidade, caráter e a natureza humana com uma profundidade acessível e atemporal.

Em livros como Cartas de um Diabo a Seu Aprendiz e A Abolição do Homem, Lewis expõe com clareza os perigos do orgulho, da vaidade e da perda de referências morais — assuntos que, curiosamente, também encontramos todos os dias no tatame.

C.S. Lewis escreveu que o orgulho é o maior de todos os pecados. Para ele, o orgulho não é apenas se achar melhor do que os outros — é o vício de se comparar, de medir o próprio valor sempre em relação ao outro. É uma distorção do olhar. Uma prisão invisível.

No Jiu-Jitsu, o orgulho morre cedo.
Ou você mata, ou é finalizado por ele.

O tatame não permite máscaras por muito tempo. Não importa quem você é fora dali, quantos seguidores tem, ou que título carrega. Ali, você volta a ser aprendiz todos os dias. E se não aceitar isso, vai sofrer — não pela dor física, mas pela resistência interna em se despir do ego.

Em Cartas de um Diabo a Seu Aprendiz, Lewis mostra como o orgulho é uma das ferramentas mais eficazes para destruir o caráter de um homem. A vaidade, o ressentimento, a comparação constante — tudo isso é alimento para o ego. E no Jiu-Jitsu, aprendemos que o ego mal alimentado cobra caro. Ele isola, bloqueia o aprendizado, impede a evolução.

Lewis também dizia: “A verdadeira humildade não é pensar menos de si mesmo, mas pensar menos em si mesmo.”
No Jiu-Jitsu, aprendemos isso na marra. Quando abrimos espaço para aprender, ouvir, cair e levantar sem drama, nos tornamos mais fortes. A humildade se transforma em arma. E o ego, em obstáculo superado.

Em A Abolição do Homem, Lewis defende que a educação verdadeira precisa formar o caráter — e não apenas a mente. Ele fala sobre a importância de forjar o “peito”, o centro moral do homem, onde habita a coragem, a honra e a virtude.
O Jiu-Jitsu é uma escola perfeita para isso. Ali, o corpo e o caráter são treinados juntos. A cada treino, não se forma apenas o lutador — forma-se o ser humano.

É comum ver praticantes talentosos que param de evoluir não por falta de técnica, mas por excesso de orgulho. Não aceitam errar. Não aceitam perder. Não aceitam parecer fracos.
Mas o que é a fraqueza, senão a incapacidade de continuar tentando?

Lewis falava de um tipo de coragem que não é barulhenta, mas constante. A coragem de continuar — mesmo quando ninguém está olhando, mesmo quando os resultados demoram.
O Jiu-Jitsu é exatamente isso: um ato repetido de coragem silenciosa.

Você entra na academia como alguém. E se permitir, sai de lá um pouco mais verdadeiro.
Não porque venceu, mas porque foi vencido e não desistiu.

A prática nos ensina que há algo maior do que vencer lutas — é vencer a si mesmo.
E talvez seja esse o verdadeiro caminho de qualquer arte: se tornar alguém que transforma a dor em sabedoria, o erro em lição, o orgulho em humildade.

C.S. Lewis não treinava Jiu-Jitsu.
Mas, sem dúvida, ele entenderia a alma do que acontece ali.