Alliance é 15x Campeã Mundial de Jiu-Jitsu
É manhã do dia seguinte ao Mundial. Após meu treino — porque, independentemente do resultado, seguimos fazendo o que nos faz melhores todos os dias —, sentei no escritório para me preparar para algumas reuniões e refletir sobre o que acabamos de realizar: um feito histórico. A Alliance acaba de conquistar seu 15º título mundial por equipes na IBJJF.
Meu coração está tomado por gratidão. Gratidão aos que começaram essa jornada e àqueles que, hoje, continuam escrevendo essa história conosco. Tudo começou com o nosso mestre Romero Jacaré, que trouxe consigo a missão de perpetuar os ensinamentos de Rolls Gracie, seu mestre. Com ele, sonhamos juntos. Ao meu lado desde o início, Gigi Paiva — são mais de 40 anos de amizade e propósito compartilhado. Nós três seguimos aqui, unidos por uma mesma causa: transformar vidas por meio do Jiu-Jitsu.
Mas apenas três pessoas jamais construiriam algo tão grandioso. Esse legado só existe porque contamos com um time inigualável de professores e atletas, que vivem os nossos valores e espalham nossa forma de ver e praticar o Jiu-Jitsu pelos quatro cantos do mundo.
Liderar o time de competição da Alliance por mais de uma década foi uma honra. Conquistamos nove títulos mundiais consecutivos, mas, acima de tudo, formamos pessoas. E hoje, são essas pessoas que lideram o time com a mesma maestria com que dominaram os tatames anos atrás. Isso é legado. Como dizia Hemingway: “O mais importante na guerra são os homens ao seu lado nas trincheiras — mais do que a própria guerra.”
Falando em guerra, o Mundial de 2025 foi exatamente isso. E das mais difíceis.
No primeiro dia, tivemos um desempenho muito abaixo do esperado: apenas dois pontos na faixa azul. Lutas duras, decididas nos detalhes ou, em muitos casos, nas mãos dos árbitros. Voltamos para o segundo dia com a responsabilidade de virar o jogo.
Era a vez da faixa marrom — onde tínhamos alguns dos nossos atletas mais promissores. E eles corresponderam. Fizemos campeão e vice em duas categorias, vencemos o absoluto e pontuamos com muitos atletas. No fim do dia, ainda conquistamos uma categoria na roxa, encostando na pontuação da Dream Art, que liderava até então.
Aqui, faço uma pausa para um esclarecimento. A Dream Art que disputava conosco não é mais aquela equipe que surgiu de dentro da nossa casa, prometendo um “Jiu-Jitsu profissional”. Isso, ao que tudo indica, ficou no passado. A equipe atual é uma fusão — acredite se quiser — da antiga Dream Art com a Fratres, duas iniciativas baseadas na mesma promessa: oferecer atalhos aos atletas enquanto alimentavam os egos de seus “donos”.
Mas os verdadeiros times de Jiu-Jitsu estavam lá. Com líderes admiráveis, enfrentando a realidade como ela é. Parabéns à Atos, comandada com excelência por André Galvão. À AOJ, dos irmãos Rafa e Gui Mendes, pelo trabalho técnico e inspirador. À Checkmat, de Leozinho Vieira, que venceu três finais na faixa preta e reacendeu a energia do ginásio. Espero que esse seja o início de um novo ciclo — que o Jiu-Jitsu volte a pertencer às escolas de Jiu-Jitsu, às torcidas que vibram por atletas com quem convivem diariamente. Afinal, é pela comunidade que lutamos.
No terceiro dia, os faixas-pretas disputavam as vagas nas semifinais de domingo. Seguimos na disputa direta com o time da Dream Art/Fratres, e conseguimos ultrapassá-los na pontuação com o fim da faixa roxa. Estávamos na liderança. Mas, no retrovisor, vinha a AOJ. Eles tinham seis atletas classificados para o domingo, contra nossos três. A vantagem era de 35 pontos — razoável. Mas então, o improvável: um garoto da roxa, campeão no peso-pluma (61kg), se inscreveu no absoluto e venceu. Mais 9 pontos para a AOJ. Diferença reduzida para 24.
Chegamos ao último dia com uma final dramática logo na primeira luta. Jalen, nosso faixa-preta peso-galo, enfrentaria Thalyson (campeão mundial da AOJ). Vencemos. Avançamos à final.
O domingo foi uma batalha ponto a ponto. Eles venceram duas categorias, perderam duas finais e mais duas nas semifinais. Nós vencemos uma final, fomos vice em outra e conquistamos dois terceiros lugares.
Ao final, o placar selou nossa história:
Alliance Campeã Mundial pela 15ª vez, com 86 pontos contra 74 da AOJ.
Mais do que números, é a confirmação de um trabalho baseado em valores sólidos, disciplina, respeito e amor pelo Jiu-Jitsu. Seguimos firmes, porque esse é o nosso propósito.
Obrigado a cada atleta, professor, aluno, colaborador e torcedor. Esse título é de todos nós.
Fabio Gurgel.