Aleksandr Soljenítsin e o Jiu-Jitsu: A Técnica da Resistência
O que nos mantém de pé quando tudo ao redor parece ruir?
Aleksandr Soljenítsin encontrou essa resposta em meio ao inferno do Gulag soviético. Seu corpo foi aprisionado, mas sua alma não. Ao escrever O Arquipélago Gulag, ele transformou o sofrimento em testemunho — e a dor em legado. Sua obra não é apenas um relato histórico: é um tratado sobre a dignidade que resiste mesmo sob a pressão mais brutal.
No Jiu-Jitsu, também aprendemos que nem sempre é possível vencer. Às vezes, só é possível resistir.
Há lutas e as vezes até treinos em que a pressão física e emocional é tão intensa que o único objetivo é sobreviver. Já me vi muitas vezes preso em posições desconfortáveis, onde o adversário tinha o controle — por mérito dele ou erro meu — e tudo que restava era não desistir. Nessas horas, o tempo parece se dilatar, como se o relógio deixasse de existir. E foi justamente ali que aprendi uma das maiores lições do meu mestre Jacaré: ele “esquecia” o cronômetro de propósito. Os rounds duravam o quanto precisavam durar. A luta só acabava quando o problema era resolvido.
Essa escola silenciosa nos ensinou a não depender de fatores externos — nem do juiz, nem do cronômetro, nem da sorte. Apenas da técnica. Apenas da nossa resiliência.
Soljenítsin escreve que o sofrimento pode ser purificador quando enfrentado com dignidade. No tatame, isso se traduz em aceitar o desconforto como parte do processo. Respirar sob pressão. Aguentar o peso. Esperar a brecha. E quando ela vier — se vier — estar pronto.
O grande mestre Hélio Gracie dizia: “Minha estratégia é apenas não deixar que meu adversário me finalize. Se eu conseguir isso, é apenas uma questão de tempo para que eu vença.” Essa filosofia moldou gerações de lutadores e esteve presente em uma das lutas mais desafiadoras da minha vida — contra Mark Kerr, na final do WVC III. Em um momento de extremo desconforto, precisei mudar a estratégia para suportar a pressão. Às vezes, é preciso levar a mente a buscar um novo caminho, mesmo sem saber onde ele vai dar. Porque, no fim das contas, a única coisa que importa é não desistir.
Essa é a arte da resistência.
Essa é a lição que o Jiu-Jitsu e O Arquipélago Gulag têm em comum.